Top 10: Capas de disco que registram o mundo agro

Da MPB ao jazz, do rock ao blues, músicos se inspiram na vida rural

“Atom Heart Mother” (1970)

Cruzamento das raças holandesa e normanda, essa vaquinha é o animal mais famoso da história do rock. Ela se chama Lullubelle III e estampa a capa do quinto disco de estúdio da banda britânica Pink Floyd. A imagem foi feita numa fazenda no interior do Reino Unido, e o proprietário do animal ganhou mil libras esterlinas pelo direito de imagem. O disco não é para fracos. Rock progressivo com faixas longas, instrumentais e com a participação de uma orquestra. Talvez por isso Lullubelle esteja olhando para trás com essa cara de “o que é isso?”.

 “Ram” (1971)

Sempre é difícil gravar um disco quando dois anos antes você fazia parte de uma banda chamada Beatles. Foi assim que Paul McCartney pegou Linda, sua mulher na época, e refugiou-se na fazenda da família, na Escócia. Ali, ambos compuseram as faixas desse disco. Não é dos mais brilhantes da carreira do músico, mas lá tem a faixa “Uncle Albert/Admiral Halsey”, que é puro McCartney. Uma melodia tão monumental quanto singela revestindo uma letra banal: o tio Albert chegou à casa dos McCartneys e não havia ninguém; a música é um pedido de desculpas pelo inconveniente. O carneiro da capa fazia parte do rebanho de Sir Paul.

“Tipo Exportação Volume 2” (1978)

Antônio de Souza (1935-1999) entrou para a história como Milton Banana. Foi o mais solicitado baterista da bossa nova. Tanto que eram dele as baquetas por trás de João Gilberto na gravação de “Chega de Saudade”, big bang do estilo gravado em 1959. Ao longo da carreira, o baterista carioca acompanhou também Tom Jobim, Baden Powell e João Donato, entre outros. Nos anos 1960, resolveu montar o trio que leva seu nome. Apesar da capa pleonástica, o disco contém o fino do samba jazz nacional, com versões sacudidas para composições de Martinho da Vila, Caetano Veloso e Benito di Paula.

“Heavy Horses” (1978)

Com suas patas largas e resistência, os cavalos da raça shire eram os preferidos dos guerreiros medievais britânicos. As patas respondiam pela estabilidade em terrenos inóspitos. E a resistência era necessária para suportar cavaleiros que geralmente estavam de armadura. Ian Anderson, vocalista, líder e principal compositor do Jethro Tull, escolheu dois cavalos dessa raça para embelezar a capa de um disco no qual o grupo mergulha profundamente nas suas raízes folk. Isso sem abandonar as pitadas de rock progressivo, jazz e blues que permeiam a trajetória da banda. Fica aqui o aviso: é som para iniciados ou para ouvintes com a resistência de um shire.

“Back at the Chicken Shack” (1960)

Além da capa, esse disco tem outro aspecto que o deixa próximo da agricultura familiar. Um dos maiores organistas da história do jazz, Jimmy Smith reuniu três amigos para fazer um disco pautado pela camaradagem e trabalho de equipe. O resultado é um clássico da mitológica gravadora americana Blue Note. Virou a régua e compasso que medem todos os álbuns que enveredam pelo funky soul jazz. Ou jazz pra ouvir e dar uns eventuais sacolejos.
 

“Saqueando a Cidade” (1983)

Se você curte bandas bem humoradas e musicalmente competentes como Língua de Trapo, Premeditando o Breque e Mamonas Assassinas, saiba que todas elas devem ao trabalho desbravador do Joelho de Porco. Fundado em 1972, o grupo chegou para confundir, misturar e divertir com muito conhecimento musical. Esse disco foi gravado pela segunda encarnação da banda, com Zé Rodrix, Próspero Albanese e Tico Terpins. O espírito anárquico e de salada geral dos primórdios está mantido. Só para dar uma ideia, além de composições próprias, o álbum traz versões da tarantela “Funicoli Funicolá”, do tema da série “Vigilante Rodoviário” e até uma releitura do hit “Dianna”. Ah, tem um porquinho abatido na capa.

“Vs” (1993)

Essa ovelha que parece querer usar uma rede como fio dental gerou algumas discussões entre fãs da banda americana Pearl Jam. Alguns juravam que é uma lhama. Para outros, era um camelo. Jeff Ament, baixista da banda e autor da foto, confirma que se trata mesmo do ovino. Com um rock mais cru e vigoroso, esse álbum veio ao mundo com a tarefa ingrata de suceder “Ten”, um dos melhores discos de estreia da história do rock. Não chegou a tanto, mas convenceu 8 milhões de americanos a comprar o trabalho em tempo recorde. Até porque o disco tem o que os fãs da banda sempre procuram: a voz de Eddie Vedder cercada de guitarras por todos os lados.  

“Dark Horse” (2014)

Se você já estiver num nível avançado de inglês e precisar ampliar seu vocabulário de palavrões ou linguajar de gângster americano, o novo disco do rapper Twista atende às suas necessidades. Na letra da faixa que dá nome ao disco, ele diz: “Deus tenha misericórdia das almas daqueles que competem comigo e que não sabiam do que eu era capaz”. Ameaças à parte, o disco só recebeu críticas positivas. E o cavalo na capa é lindo.

“Down on Stovall’s Plantation” (1966)

Até pelo fato de muitos deles terem sofrido o diabo nos campos de algodão, não é muito comum os músicos de blues negros colocarem imagens de plantações nas capas de seus discos. Esse disco do legendário blueseiro americano Muddy Waters traz uma, mas não por ordem dele. O trabalho registra faixas gravadas entre 1941 e 1942, época em que ele ainda estava nos primeiros anos de carreira. O disco é todo acústico, mas Waters aparece de guitarra elétrica. Trabalho de amadores? Quem assina a obra é a Biblioteca do Congresso dos EUA.

“Secos & Molhados” (1973)

Se você tem menos de 50 anos, imagine-se vivendo sob a mais truculenta ditadura, com censura na imprensa, presos “desaparecidos” e esquadrões da morte. Daí, de repente, aparece no mercado um disco com essa capa. A coisa era tão fora da curva que censores e generais ficaram sem saber o que fazer e liberaram o lançamento deste que é um dos maiores clássicos da música brasileira. “Rosa de Hiroshima”, “O Vira” e “Sangue Latino” estão nesse disco de estreia da banda. As referências ao mundo agro estão na cebola, no pão, nos amendoins e na linguiça (num tempo em que ainda não havia estudos da OMS contra ela). Caso você não tenha notado, o cara com lenço na cabeça é o Ney Matogrosso.