O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, afirmou que o cenário menos favorável para a rentabilidade do produtor este ano – com aumento dos custos de produção e rigidez na concessão do crédito, terá reflexos na próxima safra brasileira de grãos. “Acho que o primeiro ponto que pode acontecer é talvez nem tanto a eventual redução de área, mas a redução de nível tecnológico, e isso me preocupa muito”, disse durante o fórum “Protagonismo do Agronegócio Brasileiro”, promovido pela entidade nesta segunda, dia 16, em Porto Alegre (RS).
A Abag acredita que será inevitável observar, no ano que vem, um menor investimento tanto em insumos como em renovação de maquinário. “As máquinas começam a ter custos mais altos, com as operações ficando mais caras. E o nível de custo sobe até pelo impacto macroeconômico da própria depreciação do real”, disse. “Para os exportadores, parece no início que (este movimento cambial) é bom, mas rapidamente a gente vai ver custos aumentando por causa disso. Então, todos esses aspectos se somam negativamente.”
Conforme estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de grãos pode bater novo recorde na safra 2015/2016. O segundo levantamento de safra divulgado pela Conab prevê que a produção de grãos em 2015/2016 fique entre 208,6 e 212,9 milhões de toneladas.
Para o ciclo 2016/2017, de acordo com Corrêa, é mais prudente pensar em estabilidade. “Dada uma certa inércia e o comportamento do produtor brasileiro de ser persistente, de correr riscos, acho que só o clima pode reduzir a produção. Mas também é mais difícil que ela aumente. Ou seja, tende a ficar mais estável ou até reduzir um pouco, dependendo do clima”, afirmou.
Economia
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, fez duras críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff, no evento. Ele disse que, além de estar há mais de um ano em recessão, o Brasil não escapará de um resultado negativo em 2016, com chance de a retração da economia se estender a 2017. Um período de quase quatro anos de recessão, segundo ele, seria algo inédito na história da América Latina. “É necessário haver uma mudança de rumo, seja uma mudança interna no governo ou uma mudança de governo”, afirmou. “Não tem tempo para continuar postergando.”
Dentre as críticas apontadas pelo economista estão o descontrole fiscal, a dificuldade de conter a inflação e a falta de acordos comerciais. De acordo com Vale, o país vive uma paralisação por incerteza, e a economia está “afundando” num ritmo muito rápido. “É como se o país fosse uma empresa com um presidente que não funciona e uma diretoria que não sabe o que fazer porque o presidente não dá o rumo”, disse.
Ele acredita que o agronegócio sai menos afetado neste momento de crise do governo porque, ao longo do tempo, cresceu um pouco mais à margem da presença do estado. “É um setor que foi ganhando eficiência por outros meios”, disse. “Mas, ao mesmo tempo, tem muitas questões das quais o agronegócio depende que são função do governo, como a infraestrutura, a questão logística.”
Segundo ele, o setor agrícola não deve esperar deste governo medidas estruturais que estimulem a atividade do campo, mas tampouco deve sofrer com uma possível piora do quadro atual. “Não vejo como reverter a trajetória positiva do agronegócio. É como se houvesse uma estabilidade, uma paralisia”, disse.
Crédito
Corrêa disse ainda que o setor continua sendo prejudicado pela restrição de crédito e a consequente demora na liberação de recursos, embora o Ministério da Agricultura argumente que o fluxo está voltando ao normal.
Ele acrescentou que a previsão é de um cenário igualmente complicado para 2016 no que se refere à oferta de recursos para o produtor. “Nós vamos sentir isso o ano todo. Vão ter posições e discursos a respeito disso. Mas a realidade é de um 2016 absolutamente apertado, com dificuldade de crédito.”
De acordo com Corrêa, a isso se somam as incertezas advindas dos custos de produção, da demanda chinesa e do preço internacional das commodities. “A gente está muito preocupado”, disse. “Nós provavelmente vamos viver um 2016 muito complexo.”