As altas temperaturas e as chuvas das últimas semanas na região Sudeste do país prejudicaram a qualidade das hortaliças. Em algumas propriedades as perdas chegam a 30%. Caso de Dorival dos Santos, um dos quatro mil agricultores que fazem do Alto Tietê um dos principais cinturões verdes do estado de São Paulo. Em apenas uma semana, ele foi obrigado a jogar fora parte dos pés de alface que plantou há 70 dias.
“Chega nessa fase, a gente não tem muito o que fazer, porque vem a temperatura alta, aquele sol quente, vem a chuva e a planta é muito sensível, aí não “guenta” também essa temperatura”, diz o produtor. Santos conta que está acostumado a colher 100 toneladas por mês, mas a perda foi grande.
O engenheiro agrônomo Rogério Minoru Inaba explica que os volumes de chuva registrados nas últimas semanas na região Sudeste prejudicaram o crescimento das plantas. Enfraquecidas, úmidas e submetidas ao calor, as hortaliças sofreram com a ação de bactérias, queima das folhas e apodrecimento do talo.
“Queima de miolo da alface, entrada de doença como erwinia [bactéria causadora do talo-oco], perda das folhas por furar e entrar bactéria, diminuindo o tamanho da mercadoria, da produção”, enumera o engenheiro agrônomo.
A baixa oferta de hortaliças, principalmente na região Sudeste, elevou os preços. O índice mensal da Ceagesp, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, apontou em outubro uma alta de quase 10% nos preços das verduras. Destaque para a couve flor, o coentro e a alface americana que está quase 30% mais cara.
“É mercado. É a lei da oferta e procura, existe uma queda acentuada no volume ofertado. O produtor plantou a mesma coisa mas ele colhe menos. A perda aumenta nessa época do ano em função do clima desfavorável, então o atacadista já vai passar mais caro e vai passar pro consumidor também mais caro”, explica o economista da Ceagesp Flávio Godas.
Conforme ele, a alta chegará até certo ponto, “porque a partir de certo momento o consumidor não vai comprar mais”. Então, o preço estabiliza. Enquanto durar o período de chuvas, até março, essa é a tendência. Aumento da procura e pouco produto.
O experiente produtor Sebastião Pereira da Costa, que faz a triagem da alface americana na Ceagesp há 20 anos alerta: o consumidor vai ter se conformar.
“Está ruim, está fraca, fraca mesmo”, confirma.