Saiba como driblar a crise hídrica

O sistema agroflorestal, que conjuga o cultivo de árvores e gramíneas, ajuda a proteger o solo e permite que camadas mais profundas sejam exploradas, facilitando a retenção da umidade

Fonte: Divulgação/Canal Rural

O plantio de árvores numa mesma área em que se cultivam gramíneas é um aliado do produtor rural para reter maior quantidade de umidade no solo. Chamado de sistema agroflorestal, esse tipo de manejo garante que camadas mais profundas da terra sejam exploradas pelas árvores, permitindo a penetração da água, ao mesmo tempo em que as gramíneas promovem a reposição de nutrientes.

O sistema também ajuda a evitar a compactação do solo, que impede que a água chegue nas camadas mais profundas da terra, agravando os problemas acarretados pela crise hídrica. O uso de adubos de baixa qualidade e de máquinas inadequadas também pode prejudicar a penetração da água.

Nos últimos anos, a seca tem sido a maior inimiga dos produtores de café do cerrado mineiro. O produtor rural Luiz Conti, por exemplo, colheu 28 sacas por hectare, 50% do que o esperado. Ele investiu em tratos culturais, porém não conseguiu evitar o prejuízo.

A temperatura na região da propriedade atingiu 40 graus, segundo Conti, o que teria paralisado seu metabolismo, impedindo que grãos se desenvolvessem ou caíssem em função do calor.

Essas adversidades climáticas devem ser ampliadas nos próximos anos, exigindo do produtor ainda mais preparo para armazenar água no solo, de acordo com o pesquisador da Embrapa José Renato Bouças Farias.

Implantação

Os sistemas agroflorestais podem reduzir problemas como esses. As árvores implantadas na área fazem a cobertura do solo e pulverizam a água das chuvas, fazendo com que haja maior penetração na terra. Esse é um benefício direto para a forrageira em virtude da água, afirma o engenheiro agrônomo José Geraldo Mageste. 

Segundo ele, a árvore se beneficia da presença da forrageira porque o solo está coberto e a forrageira promove maior biodiversidade no solo. 

O custo para a implantação do sistema varia de R$ 5 mil a R$ 8 mil, dependendo do estágio de degradação do solo. Um ano após o plantio, o produtor pode colocar animais na área. A técnica fixa cinco vezes mais carbono que os sistemas tradicionais e retém 70% a mais de água no solo. 

Hoje, no Brasil, um em cada dez hectares apresenta o sistema agroflorestal tecnicamente implantado, o que representa uma área de 20 milhões de hectares. A maior parte dessas áreas está concentrada nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Até 2030, o objetivo é dobrar esse número, o que exige tecnificar mão de obra e conscientizar os produtores.

Para Mageste, o maior desafio para o pleno funcionamento do manejo é a preparação. “Se fizermos um diagnóstico bem feito da propriedade, podemos fazer o desenho desse sistema agroflorestal, planejar em quanto tempo eu vou entrar com o gado, qual a quantidade de animais, etc.”, afirma o agrônomo.