Setor de vinhos investirá no consumo interno em 2016

Apesar da crise, indústria fechou ano com crescimento tanto no mercado doméstico quanto nas exportações

O setor de vinhos fechou 2015 com crescimento de 6% nas vendas e aumento de 35% nas exportações. Números muito positivos diante da crise econômica pela qual o país passa. Para o produtor rural, no entanto, o ano teve clima atípico, quebra de safra e prejuízos.

A colheita da uva começa no início de janeiro, mas o sentimento é de pessimismo em relação à produção. A geada e o granizo acabaram com os vinhedos de muitas cidades do Rio Grande do Sul no último inverno. “Teremos uma safra diminuída, nós falamos no ano passado em torno de 700 milhões de quilos, esse ano nós vamos talvez chegar nos 400 milhões. A nível de Brasil, isso é um volume muito reduzido”, avalia o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá. 

Ele comenta, porém, que as vinícolas têm estoques consideráveis de vinhos. Com isso, a redução da colheita não afetará  a produção de forma imediata. Maior do que a preocupação com o volume da safra, é com a qualidade dos grãos que serão colhidos.

“Nós estamos muito focados na qualidade, então essa produtividade menor não vai ter uma interferência tão grande. A gente busca produzir um vinho de qualidade nesta safra de 2016 e que o mercado também continue nesse crescimento”, diz André Larentis, diretor administrativo de vinícola.

O produror Loreno Cristófoli tem 13 hectares de uva em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, maior cidade produtora da fruta no Brasil. A lavoura fica numa região alta e mesmo assim não escapou do clima severo. O produtor acredita que a colheita vai ser reduzida quase pela metade.

Preço

Outra expectativa do produtor é quanto ao preço pago pelas uvas. O valor deve ser definido ainda no primeiro mês de 2016, levando em conta as dificuldades enfrentadas ao longo da safra. 

“Abortou na florada, entrou várias doenças… Eu acho que esse ano eles vão ter um preço até justo perante a situação que a gente se encontra”, espera Cristófoli.

Para os consumidores, o presidente do Ibravin diz que os preços devem subir muito em função da alta do dólar. “Esse aumento de preço vai acontecer em função do aumento do custo dado pelo câmbio em todos os insumos da cadeia produtiva. Vai no mínimo ser a inflação, então na faixa de 10% a 15%, eu imagino que gire em torno disso”, calcula Scottá.

E diferente de muitos setores, que em 2016 querem impulsionar a exportação, a indústria de vinhos aposta no aumento do consumo da bebida entre os brasileiros. “O mercado brasileiro tem um potencial a ser desenvolvido muito grande. O consumo de vinhos ainda é relativamente baixo comparado com outros países, nós estamos com o consumo de dois litros per capita”, indica Larentis.

Se o trabalho da indústria der certo, o produtor será o maior beneficiado: “Nós temos um ditado que diz assim: sete anos de vaca magra, sete anos de vaca gorda, eu acho que é o começo da vaquinha gorda”, sonha Cristófoli.