Pouca oferta e negócios em dólar tornarão produção de laranja atrativa outra vez

Expectativa da Citrus BR é que as indústrias de São Paulo iniciem a próxima safra com queda de 41% no equivalente concentrado do suco da fruta

Fonte: Suelen Farias/Canal Rural

A oferta de laranja no mercado vai ficar menor até 2017 devido à instabilidade do clima, conforme estimativa da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR). Produtores de São Paulo e do Triângulo Mineiro podem ser beneficiados diante deste novo cenário.

Enquanto um pé acumula fartura o outro, bem ao lado, permanece vazio. É assim que está no campo, reflexo de dois anos de temperaturas e volumes de chuvas bem diferentes. Se em 2014 o produtor sofreu com a estiagem, no ano passado a chuva até favoreceu o desenvolvimento das frutas, mas o calor do mês de outubro prejudicou as novas floradas.

“O problema é que a carga da laranja não está igualada. Tem pomar que tem carga e tem pomar que não tem carga. Teve pomar que estava estressado e não deu flor, agora deu flor, mas não se sabe se vai continuar funcionando, se vai pegar. Então, a tendência é dar pouca laranja para o ano que vem”, afirma o produtor Wanderley Vischi.

Além da interferência do clima, a expectativa de safras menos produtivas no Brasil está ligada à manutenção dos pomares nos últimos anos. Com períodos longos de preços baixos, o produtor reduziu a área plantada e acabou investindo menos em tecnologia.

Vischi confirma e afirma que, sem nenhum incentivo, não há disposição para investir de verdade. “Você praticamente faz o básico, né? Controla os pés de laranja para passar o ano”.

Para o agrônomo Carlos Eduardo Antunes, a redução foi principalmente por causa da crise no setor, que enfrentou preços muito baixos: “a indústria vem pagando muito pouco, acabaram não comprando. Muitos produtores que perderam a safra no pé, deixaram de investir no pomar, fazer o manejo de doenças, principalmente do greening”, alerta.

“O produtor tem deixado de investir, principalmente em fertilidade do solo. Muitos produtores que a gente tem feito análise, os solos estão extremamente deficientes”, indica o agrônomo.

Apesar dos tempos difíceis para a citricultura, quem não desistiu de manter a produtividade crescente colhe os bons frutos dos investimentos. Marcelo Corte mantém um pomar com plantas de um a nove anos e não descuida da fertilidade do solo. No caso dele, o 2015 chuvoso pode estar reservando mais produtividade.

A expectativa da Citrus BR é que as indústrias de São Paulo iniciem a próxima safra, em julho de 2016, com uma queda de 41% no equivalente concentrado do suco de laranja em comparação com o mesmo período de 2015. Baixa oferta que combinada à alta do dólar pode proporcionar um ano mais rentável ao produtor.

“Acho que o maior incremento vai ser o dólar, a diferença do ano passado pra cá. É o que vai mudar um pouco a rentabilidade, apesar dos defensivos serem cotados em dólar, eu acho que lá no final ser vendido em dólar acaba sendo mais rentável”, calcula Antunes.

Perspectiva

Para o agrônomo, existe uma possibilidade de recuperação área plantada nesta safra. A alta do dólar vai favorecer as vendas e tornar atrativa a cultura. “A gente tem visto que têm contratos acima de R$ 15 a caixa, vai depender do contrato que o produtor faz”.