O preço do leite voltou a subir nestes primeiros dias do ano em Minas Gerais, e a tendência é de valorização para os próximos meses. Mas os analistas de mercado recomendam cautela. O custo de produção continua alto e pode reduzir a margem de lucro da atividade.
No ano passado, o produtor João Nivaldo, quase desistiu da produção da leite, setor em que está há 20 anos. Foram meses trabalhando no vermelho, até que, nas últimas semanas, o cenário mudou. Os preços do leite subiram e o produtor voltou a investir, aumentou o rebanho de 40 para 50 vacas em lactação e a produção dobrou nos últimos três meses.
Em fevereiro, ele pretende aumentar ainda mais a ordenha e tirar mil litros de leite. “Se você tira pouco leite, o custo de produção é o mesmo de produzir um volume maior. Então, eu tive que tomar essa iniciativa de aumentar”, conta Nivaldo.
A volta da chuva ajudou a recuperar pastagens e as temperaturas estão mais baixas. Os animais se alimentam melhor e produzem mais. Aos poucos, João Nivaldo vai recuperando o prejuízo acumulado no ano passado. Este mês vai receber R$ 1 por litro produzido, 5% a mais em relação ao valor pago em dezembro.
“Se você tira mil litros de leite, R$ 0,05 por litro já faz uma diferença grande. Eu acho que nós temos que trabalhar melhor com tecnologia, procurar aprimorar o rebanho e ganhar em preço de insumos, de ração. Eu tiro mil litros por dia e só tenho um funcionário, porque é preciso ter contensão de gastos”, ensina o produtor.
Entre novembro e dezembro de 2015, os produtores de Minas Gerais receberam, em média, R$ 0,97 por litro produzido. O valor é 2% menor em comparação com o mesmo período de 2014, mas está acima da média nacional. A queda na produção nacional contribuiu para a estabilização do preço.
O analista da Scot Consultoria Rafael Ribeiro afirma que, em importantes bacias como as de Minas Gerais, São Paulo e Goiás, houve atraso e menor volume de chuvas na temporada passada. Outro ponto negativo, segundo ele, foram os custos de produção em alta, que inibiram os investimentos e os gastos do produtor, principalmente em relação à alimentação concentrada. “Também houve forte queda do preço no segundo semestre de 2015, e, com isso, as próprias indústrias mantiveram os preços pagos em novembro e dezembro”, cita.
Para os próximos meses, a tendência é de recuperação dos valores no mercado interno. Mas o momento ainda é de cautela. O custo de produção, que no ano passado teve alta de 16% em relação a 2014, deve manter os patamares ao longo do primeiro semestre deste ano.
“Diferente de 2015, a gente começa esse ano já com milho, farelo, suplementos e fertilizantes em patamares de preços elevados, ou seja, será preciso fazer conta, pensar em uma estratégia e buscar as melhores oportunidades para a compra desses insumos”, orienta Ribeiro.