A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado convidou pesquisadores para debater sobre novas tecnologias capazes de combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, febre chikungunya e zika. Em audiência pública, além de mostrar as novidades, os especialistas comentaram sobre a precária realidade da pesquisa brasileira, que esbarra no velho problema da falta de verba.
O diretor de pós-graduação da Universidade de Brasília (UnB), Bergmann Morais Ribeiro, atua na área de biotecnologia e afirmou que o governo faz uma mobilização contra o zika vírus, mas não destina recursos para estimular a pesquisa. “o CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) libera um edital universal e no ano passado nem liberou.”
Ele explica que o edital universal serve para pesquisas em qualquer área, porém, o valor dos recursos é muito baixo. “O máximo que um pesquisador pode pedir é entre R$ 150 mil e R$ 200 mil por pesquisa e o reagente que você consegue, pelo menos na minha área, que é biotecnologia, pode chegar a R$ 5 mil, R$ 10 mil”, detalha Ribeiro, ressaltando que não tem como realizar uma pesquisa competitiva internacionalmente com pouco dinheiro.
A comissão também apontou que a dificuldade de fazer o registro e possibilitar o uso de produtos da pesquisa brasileira pelo Ministério da Saúde é outro problema que dificulta o investimento e a competitividade. “Não há razão para o Ministério da Saúde fazer um convênio com a Organização Panamericana de Saúde (Opas), como já fez, exigindo que todos os produtos tenham registro na Opas, isso dificulta mais a concorrência brasileira”, criticou o senador Wellington Fagundes (PR/MT) ao lembrar que o país não tem tradição em pesquisa, além dos recursos para o ramo serem pequenos.
Durante a reunião, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) propôs unir forças entre as entidades de pesquisa do país e o governo para um trabalho interligado. Já a Embrapa apresentou dois bioinseticidas capazes de matar a larva do mosquito, ressaltando que os produtos se diferenciam pois são específicos para o Aedes aegypti. “Ele não é o tipo de químico que quando aplicado vai matar a praga e outras coisas, inclusive os inimigos naturais”, afirmou Rose Monnerat, pesquisadora de recursos genéticos e biotecnia da Embrapa.
Os especialistas acreditam que, neste primeiro momento, o combate ao mosquito não pode ser com grandes pulverizadores ou com o uso da aviação agrícola. Eles indicam que ação precisa ser “a conta gotas” e em parceria com a população do campo e da cidade.