Parlamentares, criadores de equinos e representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) discutem no Senado Federal sobre a política de combate ao mormo, doença que afeta cavalos e se detectada, resulta na eutanásia do animal. Donos de haras interditados desconfiam da fiscalização do governo e cobram transparência nos exames.
A proprietária Simone Ponjitore está com seu estabelecimento interditado há dois anos e já teve três animais sacrificados. Porém, ela afirma que os cavalos que deram positivo nos exames do governo obtiveram resultados negativos em laboratórios particulares. “Essa inconsistência de resultados gera indignação dos criadores e foi a causa da gente levar a causa à justiça para solicitar novos exames”, ressalta.
O setor produtivo vê incongruências no método adotado pelo governo brasileiro, que foi desenvolvido na Alemanha. Eles alegam que o país europeu possui uma diferente realidade sanitária e o processo traz prejuízo nas análises em animais brasileiros, que podem obter falsos resultados positivos. Porém, Guilherme Marques, diretor de sanidade animal do Mapa, nega essa possibilidade.
“Toda prova diagnóstica, independente se é na área animal ou humana, existe falso negativo e falso positivo. O que ameniza nossa preocupação em relação ao mormo é que a gente faz uma série de testes”, afirma, explicando que há um exame de triagem e outro que o complementa. “Com base no resultado desses dois testes e na percepção da autoridade sanitária que está inloco, ele pode considerar aquilo um foco e, obviamente, sacrificar o animal, mesmo que ele esteja sadio”, diz, ao reforçar que um exame sustenta o outro.
Sophia Baptista De Oliveira, proprietária de um haras, questiona os métodos, “onde estão os testes de validação das sorologias que eles usam hoje para mormo? Por que não fazem as necropsias, por que não tem isolamento de bactéria?” e indaga como será o processo de desinterdição dos locais bloqueados. Ela alega que o representante do Mapa não respondeu diretamente essas questões.
O senador Ronaldo Caiado (DEM), quem pediu a realização de uma audiência pública, disse que vai acionar a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE na sigla em inglês) para tentar encontrar uma solução. O parlamentar levantou polêmica ao questionar a rapidez com que o ministério liberou o Complexo Esportivo de Deodoro, que estava interditado por suspeita de mormo.
“No Brasil tem propriedades interditadas há seis anos e meio, outra há quatro, outra há três. No entanto, o Complexo Militar de Deodoro, para poder sediar os Jogos Olímpicos de 2016, foi desinterditado em três semanas. Por que dois pesos e duas medidas?”, questionou o político.
Ele foi rebatido durante a audiência, quando o diretor de sanidade animal do Mapa explicou que o processo de desinterdição do complexo esportivo foi ainda mais rígido e durou cinco meses, um trabalho feito em parceria com as forças armadas para acelerar o processo. Marques também comentou sobre um processo do Ministério Público Federal, que questiona se os laboratórios utilizados pelo Mapa possuem a certificação necessária.
“Os laboratórios federais são referência para o país. O que se discute é a possibilidade de melhorar esse processo, ter mais demanda, ter mais capilaridade no país para os resultados demorarem menos”, disse, afirmando que concordo “em gênero, número e grau” com essas demandas.
Nota
Após a conclusão desta reportagem, a Agro Maripá enviou a nota abaixo:
Em relação à fala do Sr. Guilherme Marques, no tocante à política sanitária e diagnóstico do Mormo, gostaríamos de argumentar que:
“Ainda que reconhecendo a possibilidade de existência de resultados falso positivos e falso negativos nos testes diagnósticos, não foram disponibilizados os estudos epidemiológicos que permitiriam calcular os valores preditivos positivo e negativo destas provas sorológicas, isto é, as probabilidades de um resultado positivo refletir realmente a presença de infecção e de um resultado negativo refletir a ausência de infecção em um indivíduo. O referido percalço seria – na opinião do diretor de sanidade animal do MAPA – amenizado pela série de testes que se realiza. Na realidade, baseado na Instrução Normativa do MAPA sobre a matéria, diferentemente do que ocorre em outros países do mundo, no Brasil são realizados apenas dois testes, um de triagem e outro confirmatório. A “série de testes” alegada só foi possível em animais através de ordens judiciais, sob ações judiciais, à pedido de seus proprietários. Ainda, ao invés de dirimir dúvidas, a ”série de testes” flagrou inconsistências diagnósticas, não confirmando, muitas vezes, os resultados obtidos no Brasil.
A explanação do Sr. Guilherme Marques culmina conferindo à autoridade sanitária estadual que está inloco a capacidade sobre humana de caracterizar “aquilo” como um foco, e assim, sacrificar o animal, mesmo que este se apresente sadio. Sabidamente, o Mormo cursa – na maioria dos casos – sem apresentar sinais clínicos na espécie eqüina e nenhum agente sanitário seria capaz de produzir qualquer juízo sobre o estado de infecção de um animal com base na inspeção e no exame clínico. Assim, especialmente nos indivíduos assintomáticos, a confiabilidade nos resultados laboratoriais é decisiva para a determinar com segurança que o animal está infectado e deve ser sacrificado.”