Os produtores de figo do interior de São Paulo enfrentam pelo segundo ano consecutivo um ciclo difícil para a cultura. Além das novas exigências da União Europeia, parte da produção foi descartada por causa do excesso de chuva. A exemplo do produtor Onivaldo Belone, que está aproveitando os dias secos para acompanhar figueira a figueira o desenvolvimento dos frutos.
O excesso de água, logo no início do ciclo, comprometeu 20% da plantação e desde o fim do ano passado quatro mil caixas de figo foram jogadas no lixo. “Esse figo foi jogado fora e a gente não consegue faturamento nenhum dele”, diz o produtor.
Depois do desperdício e prejuízo financeiro, a preocupação do produtor agora é outra: a comercialização da próxima safra. A maioria da produção é exportada para países como Canadá, Alemanha e Holanda, e boa parte dos figos chegaram ao destino estragados.
“Não é só a qualidade que é afetada com excesso de chuva. A água entra pelo ostiolo do figo e acaba azedando os frutos, como é uma fruta doce, ela não pode chegar ao ponto de ficar azeda”, ensina o engenheiro agrônomo Henrique Conti.
O produtor Belone explica que este é um período forte para a cultura, de grande produção, e começar a safra na Europa com este tipo de problema “queimou um pouco a imagem do figo brasileiro”.
O figo está entre as 20 frutas brasileiras mais exportadas. Só no ano passado, 1,3 mil toneladas da fruta foram embarcadas. O presidente do Instituto Brasileiro de Frutas, Moacyr Saraiva, afirma que “é a terceira fruta de clima temperado mais temperada, atrás apenas da uva e da maçã”. Apesar de ser vendido em volumes menores, devido ao consumo menos massivo que as demais, o figo está em franco desenvolvimento e as exportações são a garantia de rentabilidade dos produtores.
Exigência da UE
Outra preocupação das entidades de exportação de frutas é com a revisão, pela União Europeia, das exigências para importação de produtos. Os países estão ainda mais rígidos em relação à qualidade das frutas. “Nessa revisão, o organismo que estabelece esses padrões, que se chama US, deu muita ênfase ao aspecto de sujidade e de impurezas. E começou a considerar que aquelas manchas de pequenos resíduos de sulfato de cobre não tóxico [utilizado no Brasil] e reconhecido pela UE, alteram a aparência e se caracterizam agora como sujidades”, comenta Saraiva.
Segundo ele, o Ministério da Agricultura (Mapa), ao tomar conhecimento das mudanças, agendou uma reunião para elaborar uma estratégia para reverter a situação. “É uma discussão que vai ser feita num fórum e, obviamente, nós estamos nos munindo ao Ministério para que ele tenha subsídios para isso”.