O governo conseguiu eliminar temporariamente a taxa de importação de países de fora do Mercosul, que até então era de 8%. A ideia é, com o barateamento do cereal, conseguir trazer maior volume ao país e combater a escassez, que vem prejudicando principalmente os criadores de aves e suínos. Mas a medida não terá grande efeito na Região Sul, onde se concentra os produtores dedicados a essas atividades.
Para o analista de mercado Cesar Castro Alves, da consultoria MB Agro, a liberação é apenas um paliativo. Segundo ele, os estados sulinos não teriam vantagem nessa operação, pois podem comprar milho da Argentina e do Paraguai, membros do Mercosul, que já não é taxado. “No total do Brasil, (a medida) aliviaria para o Nordeste, mas muda muito pouco a situação estrutural”, afirma Alves.
Para o criador de aves Pedro Waldomiro Guarnieri, de Holambra (SP), a importação de milho sem taxas – até um máximo de um milhão de toneladas – chegou muito tarde. “Até esse grão chegar nos portos e nas propriedades, vai ser muito crítico. Vai haver mais desemprego e falta de comida”, afirma.
Guarnieri conta que a cooperativa para a qual entrega seus frangos está com prejuízo em virtude do aumento do custo da saca de milho, que teria dobrado de preço em um ano e atingido R$ 50. “Eles já nos avisaram que vai ter uma redução na produção (de frango) de 20% num primeiro momento”.
Essa variação também afeta a engorda de gado de Guarnieri. O custo da operação, diz ele, aumentou cerca de 40% em um ano. Enquanto isso, o preço da arroba do boi gordo teria subido 7%. “Se a cotação do milho continuar subindo do jeito que está, o confinamento vai se tornar inviável aqui na propriedade”.
Perspectivas
No ano passado, o Brasil exportou 30 milhões de toneladas de milho, o que reduziu o estoque interno. O mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a produção de 57 milhões de toneladas na segunda safra. Mas o mercado já acredita em quebra, provocada pela falta de chuva no Sudeste e no Centro-Oeste, o que pode aumentar ainda mais a escassez do produto.
Cesar Castro Alves afirma que há expectativa de acomodação de preço no segundo semestre, mas ela vem sendo revista em função dessa redução na colheita. “Fala-se em 15%, até 20% em algumas regiões, o que vai reduzir a safra e dificulta uma queda de preços mais forte como era esperada”, diz o analista.