Como os juros nos EUA interferem no mercado de grãos?

Banco central dos Estados Unidos decidiu manter a taxa de juros por lá; veja o que isso muda no mercado para o produtor

Fonte: Pixabay

O banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve, também chamado de Fed) decidiu pela manutenção da taxa de juros no país entre 0,25% e 0,5% ao ano. A presidente da instituição, Janet Yellen, explicou que os dados econômicos norte-americanos tiraram o estímulo da autoridade monetária em elevar os juros por lá. Mas o que isso interfere nas negociações das commodities agrícolas, como soja, milho e café?

De acordo com o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, um dos motivos que torna a decisão do Fed tão aguardada é que os investidores esperavam uma definição nos Estados Unidos para decidir como aplicar o dinheiro a partir de agora: no dólar ou em outros ativos. Por exemplo, uma alta nos juros norte-americanos estimularia os operadores a comprar títulos do Tesouro do país, sendo este papel mais rentável e com baixo risco de calote por causa da solidez da economia dos Estados Unidos. A questão é o retorno financeiro.
 
Como isso não aconteceu agora, o fluxo de dinheiro deve permanecer no mercado de commodities, avalia o economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria. O investimento é mais arriscado do que investir no Tesouro norte-americano, mas as oscilações do mercado costumam gerar bons lucros para quem decide atuar nas bolsas de Chicago e Nova York.
 
Para Campos, a estabilidade nos juros dos Estados Unidos vai fará com muitos fundos de investimento atuando no mercado de commodities. “Essa manutenção de juros dá suporte às cotações, mas não deve gerar grandes altas”, avalia.
 
Utilizando a soja como exemplo, verifica-se que o grão atingiu o patamar mais baixo do ano em março, alcançando a média de US$ 8,50 por bushel na Bolsa de Chicago. A partir disso, a analista de mercado da AgRural Daniela Siqueira aponta que foi possível notar a entrada dos fundos de investimento nos contratos da oleaginosa.  
 
Levando em contas também fatores fundamentais, como uma oferta mais escassa, a soja voltou a subir, alcançando no começo de junho o maior patamar desde 2014: US$ 11,50/bushel. Resumindo: um fluxo de dinheiro maior neste mercado garante patamares mais altos que o comum. Essa entrada de capital ajuda nas oscilações do chamado “mercado climático”, quando qualquer mudança no clima dos Estados Unidos gera instabilidade nos preços praticados em Chicago.
 
Como os juros nos Estados Unidos não subiram, por enquanto a tendência é de solidez no mercado de grãos, para que ele continue com atuais patamares de preços nas próximas semanas. Mas vale o alerta que todo o analista mercado costuma dar: qualquer notícia fora do esperado, como quebra severa de produção, pode mudar o mercado. No final, a lógica “oferta contra demanda” prevalece. Se sobrar produto, o preço cai. Se faltar, o preço sobe.