Mercado de capitais deve financiar agronegócio

Em eventorealizado em São Paulo, analistas afirmam que crescimento do setor no longo prazo estaria atrelado a esse tipo de recursos

Fonte: Alisson Santin Zanatta/Faxinal dos Guedes (SC)

O mercado de capitais deve ser mais utilizado para financiar o crescimento do agronegócio no longo prazo, disse nesta quinta-feira, 16, o diretor comercial e de desenvolvimento de mercado da BM&FBovespa, Fábio Dutra. 

“As projeções atuais mostram que o potencial de crescimento dos setores de carne, soja e milho nos próximos dez anos fica em torno de 30% e em 15 anos, 50%. Como vamos financiar este crescimento? Apenas 3,8% do financiamento de longo prazo do setor é feito pelo mercado de capitais”, afirmou Dutra, durante o Seminário Perspectivas para o Agribusiness 2016-2017, nesta quinta, dia 16, em São Paulo.

Em sua apresentação, Dutra mostrou que, dentre as fontes de financiamento da safra atuais utilizadas por produtores brasileiros, 35% correspondem a recursos próprios, 37% são créditos de bancos públicos, 9% vêm de cooperativas, 7% são de cooperativas de crédito, 5% são de bancos privados e parcela menor proveniente de revendas, tradings e empresas de insumos. “O produtor não se financia hoje pelo mercado de capitais”, complementou.

Este mercado, na avaliação do sócio-fundador do grupo Ecoagro, Moacir Teixeira, que participou do painel, deverá se voltar ao financiamento da chamada “agricultura empresarial”, ou seja, dos grandes produtores cuja produção é voltada à exportação. Já a agricultura familiar, que responde por 70% do abastecimento doméstico de alimentos, deveria ser suprida com crédito e políticas públicas. 

Para o sócio da Pinheiro Neto Advogados, Tiago Themudo Lessa, os recursos já disponíveis do mercado de capitais deveriam ser mais amplamente utilizados, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), debêntures incentivadas, dentre outros. Para ele, mecanismos de mercado de capitais também precisam ser vistos não apenas como fontes financiadoras da atividade agrícola. “São também uma excelente alternativa de reestruturação de dívida, que conta com um instrumento jurídico sólido e testado”, afirmou. 

Grãos 

Apesar da previsão de boa safra de grãos nos Estados Unidos, 2016 deve seguir com preços em patamares históricos no mercado internacional, de acordo com os participantes do seminário. E o Brasil tem responsabilidade sobre esse cenário, já que a produção nacional de soja e milho deve ser menor que a do ano passado.
De acordo com o diretor da consultoria Agroconsult André Pessôa, tanto a safra brasileira como a argentina tiveram frustração, o que levaria a uma demanda maior sobre os estoques americanos. Com isso, os preços tendem a seguir firmes e acima do patamar de US$ 10,50 por bushel. 

“Hoje, está acima de US$ 11, e talvez tenha aí um pouco de especulação, mas há fundamentos para uma manutenção de preços bastante elevados pra próxima safra”, afirmou o consultor.

Assim como no ano passado, o dólar, mesmo menos valorizado frente ao real, deve continuar incrementando a receita de setores com grande potencial exportador, como grãos e proteína animal. O ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura Ivan Wedekin, a agricultura está ganhando fôlego frente a uma crise estrutural na pecuária. 

“Esperamos uma ligeira recuperação do mercado interno também já que 75% do que o agro produz é consumido aqui pela população brasileira”, disse.

Apesar do cenário promissor para diferentes commodities, o seminário apontou que a logística se mantém como inimiga da competitividade do Brasil no mercado internacional. Uma alternativa para solucionar esse problema pode estar na iniciativa privada. 

A Cosan, que atua nos segmentos de infraestrutura e energia, por exemplo, está expandindo sua capacidade de escoamento. Do ano passado para cá, 100% da produção que vai de Mato Grosso ao Porto de Santos é atendida pelo modal ferroviário da empresa, afirmou o diretor-presidente Marcos Marinho Lutz. 

Segundo ele, o projeto da empresa é dobrar sua capacidade nos próximos cinco anos. “É um investimento de R$ 9,5 bilhões, que vai tirar mais de três mil caminhões por dia das estradas paulistas que acesam Santos”, disse Lutz.