Por mais de cinco décadas o produto foi o “ganha-pão” da família do produtor Divino Martins Ferreira. Ele herdou do pai o gosto pela pecuária leiteira e hoje compartilha com o filho os ensinamentos da profissão. Unida, a família encara a dura rotina de trabalho para produzir quinhentos litros de leite todos os dias e, mesmo com todo esse esforço, o produtor ainda enfrenta dificuldades para permanecer na atividade.
“Eu acho que produzir leite está mais difícil hoje. O preço do leite até teve um aumento bom, mas o custo de produção aumentou muito mais em relação ao valor pago pelo leite. Eu, na verdade, acho que o bolso está mais vazio do que no ano passado”, disse Divino.
No Triângulo Mineiro, o preço pago pelo leite aumentou 50% nos primeiros seis meses deste ano. Em janeiro, os produtores receberam, em média, R$ 1 por litro produzido. Hoje o valor pago é de R$ 1,50.
O aumento no preço do leite já é esperado para esta época do ano, que é considerada o período de entressafra da atividade. Mas, com achegada do inverno, os produtores não têm muitos motivos para comemorar, já que a das pastagens é prejudicada pelas baixas temperaturas e, com a falta de chuva, o produtor é obrigado a suplementar o gado.
Na fazenda de Divino, as vinte vacas em lactação consomem meia tonelada de silagem de milho e 70 quilos de ração por dia. Nesta época do ano, o custo de produção da atividade dobra, mas no fim do mês o lucro que o produtor deveria ter com o aumento no preço do leite, fica dentro do cocho.
Na pecuária leiteira, os grãos representam 50% da alimentação dos bovinos e os produtores estão sofrendo com o aumento nos preços desses ingredientes. Na região, o milho e a soja registraram alta de 70% nos últimos meses.
Nos primeiros seis meses de 2016, a captação de leite no Triângulo Mineiro caiu 35%. Para Cenyldes Moura Vieira , presidente da Cooperativa Agropecuária de Uberlândia, a oferta do produto só vai ser regularizada se os preços continuarem subindo. “O produtor não está conseguindo ter lucratividade e muitos estão desestimulados a produzir leite. A consequência disso foi uma queda muito grade na produção, as indústrias com dificuldades para adquirir matéria-prima para fornecer produtos lácteos ao mercado e isso faz com que o preço do produto suba na gôndola do supermercado”, disse.