Um projeto de lei que autoriza a fabricação de veículos leves movidos a diesel no Brasil está prestes a ser votado em uma comissão especial na Câmara dos Deputados. A ideia anima produtores de biodiesel, mas levanta polêmicas perante a indústria da cana-de-açúcar. Para o superintendente da União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, a aprovação da proposta seria benéfica para o setor do qual faz parte. Atualmente, o diesel disponível nas bombas de combustível têm 7% de biodiesel, o chamado b7, e uma legislação garante o aumento da mistura para 10%.
A soja é a matéria prima responsável por 70% da produção de biodiesel no Brasil e a gordura animal por mais 20%. “Quanto mais esmagarmos a soja no Brasil, nós vamos também ter uma eficiência do ponto de vista da produção da cadeia alimentar. Porque, na cadeia alimentar, o que mais se aproveita é o farelo da soja, que se transforma em proteína. Isso tudo vai criar uma verticalização do processo de produção e agregação de valor enquanto a gente está exportando soja em grão, in natura”, disse.
Para Eduardo Leão, diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), quem paga para o Brasil vender um diesel mais barato que os outros combustíveis é o próprio consumidor. “O diesel, hoje, tem uma diferenciação tributária muito grande em relação ao etanol e gasolina. A sociedade renuncia de pagar impostos, quer dizer, você paga menos impostos exatamente para favorecer aquelas pessoas que utilizam veículos públicos – os ônibus nas cidades – pra reduzir a tarifa de ônibus e pra reduzir o transporte de carga”, disse.
O projeto que será votado na Câmara já recebeu pareceres negativos em duas comissões e o principal motivo é o possível aumento na emissão de gases de Efeito estufa que a medida, se colocada em vigor, causaria. “O diesel é um dos maiores responsáveis por doenças cardiovasculares e respiratórias nas grandes cidades. Isso quem diz são os médicos, especialistas que analisam o efeito da poluição nas grandes metrópoles. Mesmo com a mistura do biodiesel, quando você substitui pelo etanol, que hoje reduz em 90% as emissões comparativamente à gasolina e algo próximo em relação ao diesel também, eu ficaria com o etanol”, falou o representando da Única.
Mas Donizete, da Ubrabio, rebate a declaração de Leão. Ele argumenta que, para rodar 10 quilômetros, um veículo 1.5, movido a diesel b7, emite um quilo de gás carbônico, enquanto um automóvel a gasolina emite 30% a mais. Em compensação, o carro abastecido com etanol, emite 35% a menos. “Tenho certeza, absoluta, comparando a misturas de B7, B10, B15, B20, com a gasolina, o motor que faz essa quilometragem de um combustível de um motor ciclodiesel ou um moto otto, que é à gasolina, tenho certeza absoluta que os motores com a mistura de biodiesel emitem menos e têm uma eficiência maior”, disse.
O que pensam os consumidores?
Diante desta polêmica, os consumidores dividem suas opiniões. Para a enfermeira Fabiana Silva, por exemplo, o preço pode ser um ponto positivo. “A gasolina tem a questão dos poluentes. Não sei se tem com relação ao diesel também, mas se for mais barato, acredito que seja benéfico”, falou. Já para o motorista Rafael Marconi, o preço baixo não compensa a poluição do ar: “não concordo muito por causa da poluição que viria a acontecer com a atmosfera. Seriam muitos carros, apesar da economia, mas não é viável por causa da poluição mesmo”.