A seca que atingiu o estado do Mato Grosso tem deixado produtores de milho preocupados com a colheita do grão. Muitos agricultores optaram por não colher o grão, pois a produtividade se mostrou tão baixa que a colheita seria mais um prejuízo. Mesmo aonde as colheitadeiras já passaram, os números se mostram desanimadores e o estado deve produzir quase 10 milhões de toneladas a menos do que estava previsto.
Frustrado, o produtor Enéas Gláucio Batistella revela que a lavoura de 1,2 mil hectares que ele possui em Trivelato (MT) foi duramente afetada pela estiagem. “Terminamos a colheita. Fizemos um investimento em torno de 58 sacos, com milho de alta tecnologia, adubação boa, feita na hora certa e fechamos a média ontem. Acabamos de colher, ontem, 58 sacos, mas esperava 95”, disse.
Para evitar que os prejuízos fossem ainda maiores, o produtor abandonou uma parte da área. “Tem dois talhões da propriedade que deu perda total, abaixo de oito sacos por hectare, inviabilizando a colheita. Essa quantidade não paga nem o óleo diesel e o operacional, então o mais barato foi gradear, foi a única alternativa que tivemos para instalar a próxima cultura, que o ano que vem vai ser soja”, lamentou.
A seca também foi a grande vilã na lavoura de milho de Décio Sidnei Freitag, que deixará de colher 250 dos 800 hectares cultivados. “Os primeiros talhões deram até bem, mas antes da metade não produziu direito. As médias foram baixando até chegar nisso aqui, dando perda total e prejuízo em torno de 25 sacos só de insumos.”
Ele esperava colher ao menos para pagar as despesas, mas a chuva não veio e o que restou foi apenas prejuízo. “Teve 40 dias sem chuvas. No geral, a expectativa é de colher 32 sacos em média, um prejuízo estimado entre R$ 250 e R$ 300 mil só na área abandonada”, falou.
Um levantamento feito entre produtores e sindicatos rurais de todo o estado aponta 10% de áreas abandonadas com milho safrinha. Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), as regiões médio-norte, nordeste e leste foram as mais afetadas pela estiagem em 2016.
“A última estimativa do Imea (Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária), mostrou um número de 20 milhões, nós achamos que esse número pode cair para 17 milhões, então seria uma quebra de 9 milhões de toneladas. Isso é muito milho a menos na produção de Mato Grosso. (…) Podemos prever que o produtor vai passar por dificuldades tanto de crédito quanto de planejamento para a próxima safra de soja e da safra de milho”, analisou Endrigo Dalcin, presidente da Aprosoja-MT.