Pecuaristas do interior de São Paulo encontraram na criação de búfalos uma boa alternativa para conquistar um mercado promissor: o de queijos. Os produtores que adotaram esse caminho afirmam que, além de mais lucrativa, a atividade dá menos trabalho ao criador.
Para começar uma criação, o pecuarista deve tirar da cabeça a imagem dos búfalos ferozes que vivem nas savanas da África. “Esses são bem dóceis. Reconhecem a pessoa como dono. Podem até estranhar quem chegou, mas, mesmo assim, são bem dóceis”, diz Lauziro Nunes Botti.
Há 14 anos, Botti mantém um rebanho de búfalos em Sarapuí, no sudoeste paulista. Inicialmente, ele investiu na criação principalmente para a produção de leite, uma matéria-prima que valorizou muito na última década. “O leite já chegou a valorizar 100% a mais que o bovino. Hoje está cerca de 85% mais valorizado que o bovino”, diz o pecuarista.
Ao contrário dos bovinos, os bubalinos se reproduzem durante os dias mais curtos, como os de inverno. Nessa época, as fêmeas produzem pelo menos 70% mais leite que em outros períodos do ano.
“Justamente no outono-inverno, época que a produção agrícola vegetal cai devido ao período muito seco e mais frio, o bubalino acaba suprindo essa lacuna na questão da renda dessas famílias”, afirma Márcio José Ricardo Sturaro, diretor da Agricultura Sarapuí.
O sistema de criação é o semi-intensivo e Botti diz que o trato com os animais é menos trabalhoso. Afinal, os búfalos são mais rústicos. Além de pasto, cada animal se alimenta de três quilos de ração por dia. Essa nutrição gera um leite mais encorpado, com mais vitaminas que o leite de vaca. Matéria-prima ideal para a produção da mozzarela, que agradou o paladar do brasileiro.
“É possível obter derivados de uma qualidade muito ímpar. É um leite mais adocicado, dá uma mozzarela mais macia, extremamente branca e bonita. Além de atrair os olhos, satisfaz o gosto do consumidor”, diz Sturaro.
A região de Sarapuí já é considerada uma das principais bacias leiteiras de búfalas do Brasil. E esse título foi conquistado graças ao esforço de 30 produtores, que há três anos formaram uma cooperativa para facilitar a captação de leite e a entrega a três grandes laticínios de São Paulo e do Rio de Janeiro. Atualmente, a captação no município passa de 500 mil litros de leite de búfala por ano.
Segundo Sturaro, essa é uma das atividades agrícolas que têm a capacidade de manter o pessoal no campo, com boas condições de vida: “Não adianta a gente fixar. Temos que estimular esse pessoal a continuar no campo com boas condições, tendo a sucessão profissional na agricultura familiar, atraindo os filhos a permanecer na atividade”.
Além de estender a produtividade das vacas por todos os períodos do ano, outro desafio da atividade é conquistar um novo mercado: o de carne de búfalo. Depois do desmame, com aproximadamente nove meses, os animais são abatidos e vendidos a frigoríficos da região, mas o consumo ainda é tímido se comparado ao de outras proteínas.
“Há ainda um preconceito. Deveria existir uma divulgação melhor da carne do búfalo. Até porque ela é comercializada um pouco mais barata que a do bovino. Cerca de 10% hoje”, afirma Botti.