Os resultados da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos estão refletindo no agronegócio brasileiro e na economia do país desde 2018. De acordo com Alexandre Mendonça de Barros, doutor em economia e sócio-diretor da MBAgro Consultoria, o conflito entre as duas maiores potências do mundo, elevou por exemplo, em 70% o volume de compra da China sobre a soja brasileira.
“O produtor brasileiro ainda não consegue entender com clareza o que essa guerra comercial significa. Os chineses estão pagando prêmios até R$ 25 a mais nos portos, ou como o preço do fertilizante, que está caindo em dólar como reflexo”, afirma.
“Mas não podemos esquecer também, como isso está afetando a vida dos produtores norte-americanos. O endividamento agrícola do país é o maior em cinco anos, um número recorde diante da economia dos Estados Unidos”, diz.
O sócio-diretor da MBAgro também explica que o cenário fica ainda mais incerto quando o assunto é um acordo entre os dois países.”Uma hora a China diz que vai assinar um acordo e outra hora não mais. Mas esse jogo é apenas à curto prazo, já que a cada dia os problemas aparecem, como é caso da falta de abastecimento de carne no país’, explica ele.
Peste suína
Desde que a peste suína africana se alastrou pelo continente asiático, o preço do suíno no mercado chinês já triplicou de valor, de acordo com Alexandre Mendonça.”Em 2020 o mercado está prevendo um buraco de 20 a 23 milhões de toneladas de carne suína no mundo. Em um ano normal, a produção mundial fica em torno de 15 milhões de toneladas. A estimativa que é a China demore pelo menos cinco anos pra conseguir repor minimamente o rebanho de porcos”.
“Com isso, a China está agressiva quando o assunto é compra de proteína animal. E como consequência disso, estamos vendo os altos preços no mercado interno do Brasil, primeiro a carne bovina, que depois puxou o preço da carne suína e de frango”.
Cenário geral
Com tudo, o especialista afirma que em 2020, a expectativa sobre o agronegócio brasileiro ainda muito positivo. “Esse ano vai ser estranho, exportação de milho está forte, há uma demanda muito forte em consequência da demanda de carne. Estamos vendo uma demanda agressiva seja de carne ou grãos, sinalizando que 2020 pode ser um ano excepcional para o agronegócio”, diz.