Enquanto entidades do setor agrícola defendem que fusão pode beneficiar o produtor rural, há quem afirme que medida prejudicaria negociações com Europa e Ásia
Algumas declarações do candidato à Presidência do Brasil Jair Bolsonaro sobre uma possível união entre os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente trouxeram à tona um antigo debate sobre as exigências mundiais de preservação ambiental. Para alguns integrantes do setor agrícola, o país deve priorizar suas necessidades, mesmo que isso signifique perder mercados importantes como o europeu.
Há muito tempo se fala sobre o impacto da agricultura sobre as matas preservadas da Amazônia. Para diminuir essa visão negativa sobre o setor e abrir novos mercados, foi criada a moratória da soja, um pacto ambiental selado em 2006 entre entidades que representam os produtores, ambientalistas e o governo brasileiro.
“Nada é mais fácil na vida do que arruinar uma imagem. E, feito isso, é difícil reverter”. A frase dita pelo ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda Rubens Ricupero, resume a preocupação sobre não só a união entre os ministérios, como também da intenção do setor da soja em acabar com a moratória.
“Concorrentes irão usar esse fato contra nós. Sem falar nos países protecionistas espalhados pela União Europeia e Ásia, que podem usar esse argumento contra o Brasil para não comprar mais daqui”, diz Ricupero.
Segundo ele, o agronegócio será prejudicado com essas medidas, pois há uma percepção que a visão do setor produtivo irá prevalecer. “Não sou contra o agronegócio, mas acho que o setor inteligente é o que procura essa sustentabilidade ambiental para assim conquistar mais mercados. O efeito negativo já começa a aparecer, já estou recebendo mensagens de ambientalistas do mundo todo alarmados com essa possibilidade”, diz.
Setor discorda que Europa fará falta
O comentarista do Canal Rural Benedito Rosa discorda da opinião de Ricupero e diz que a União Europeia está atrás de algum argumento para reduzir ainda mais as compras do Brasil. “A imagem da agricultura no mundo já está afetada, a União Europeia está atrás de mais algum argumento para não cumprir as obrigações que tem junto à OMC de compras do Brasil”, diz Rosa.
Para o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Roberto Justus, na Amazônia já existe uma limitação severa e os produtores não podem usar mais do que 20% da própria área para produção agrícola.
“Temos que nos preocupar com o Brasil. A comercialização com a Europa, em escala, é muito menor que em outros mercados como os da Ásia. Desde o início fomos contra essa moratória da soja e apoiamos o fim dela”, diz.
Fim da moratória?
De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio Galvan, a moratória da soja deveria acabar. Na avaliação dele, o documento não respeita o direito dos produtores, inibindo a possibilidade de uso legal da terra.
Em Mato Grosso, segundo a Aprosoja, cerca de 400 agricultores que abriram legalmente novos campos de produção no bioma – com autorização dos órgãos ambientais – têm enfrentado grande dificuldade de comercializar a produção. Mesmo em dia com as exigências ambientais, eles teriam sido incluídos em uma “lista negra” das tradings. “Façam com que a nossa legislação seja respeitada mundo afora”, diz Galvan.
Diante disso, as diretorias da e da Aprosoja Brasil e Aprosoja-MT se reuniram com representantes de três das multinacionais signatárias da Moratória e se posicionaram sobre o impasse e reforçaram o pedido de que a moratória da soja na Amazônia seja extinta.
Os produtores também enfatizaram que não concordam com uma eventual elaboração de um pacto semelhante envolvendo outro bioma, o Cerrado.