O mais importante evento da sojicultura do calendário nacional reúne ministro, produtores, entidades e empresas de tecnologia
Daniel Popov, de São Paulo
As plantadeiras entraram no campo, nesta quinta-feira (21) e a emoção e euforia tocou todos os presentes. A representatividade desta Abertura Oficial do Plantio da Soja vai muito além do ato em si, ela demonstra a esperança dos produtores de que esta será uma das maiores safras da história do Brasil. Com o tema “Técnicas de produção para redução de custos”, evento tem realização do Canal Rural e Aprosoja Brasil.
O evento contou com a presença de autoridades como o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, e o ministro interino da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Eumar Novacki, que antes de subir em um dos máquinas agrícolas para dar a largada na safra, mostrou seu apoio a projetos como o Soja Brasil. “Queria parabenizá-los por este projeto tão importante para o país. Temos o desafio de transformar essa pujança em empregos, renda e alimentos e por isso apoiamos os iniciativas como esta”, comentou Novacki.
Na primeira palestra do dia, o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca, falou sobre os altos custos de produção de soja registrados na safra 2016/2017. O Imea calcula uma safra de soja de 29,8 milhões de toneladas. Segundo Latorraca, a alta nos custos para esta temporada se deve a alguns fatores, como a valorização do dólar frente ao real, que encareceu os agroquímicos e rendeu valores menores nas negociações do mercado futuro. “O produtor terá que fazer de tudo para garantir uma boa produtividade nesta safra”, garante o superintendente. “Sem isso, terá uma margem de lucro muito apertada.”
Na sequência, o geólogo e pesquisador da Embrapa Éder Martins instruiu e tirou a dúvida do público presente com o tema “Técnicas de rochagem”. Segundo ele, o Brasil possui solos muito pobres em nutrientes, por serem bastante explorados pela agricultura e também porque, em geral, são muito lixiviados. Para compensar esse gargalo, os produtores gastam bastante dinheiro anualmente com fertilizantes e isso impacta diretamente na margem de lucro do produtor.
É aí que entram os remineralizadores como o pó de rocha, que se trata de rocha moída e peneirada com a função de melhorar a qualidade física e química do solo. “A rochagem não vem para substituir os fertilizantes, mas para complementar, reduzindo os custos”, garante Martins. “A vantagem é que esse pó fica na terra e não é levado junto com a água de chuva, como acontece com os fertilizantes.”
Outra palestra técnica esclarecedora foi sobre “Agricultura fermentativa, com o engenheiro agrônomo Cassiano Ricardo Niero Mendes. Ele explica que a prática trata do uso de bactérias que promovem a bioproteção e crescimento de plantas saudáveis, através dos microrganismos do solo, que desempenham a função de recuperar a produção de nutrientes.
Entre as vantagens apresentadas por esta técnica, estão o controle de doenças de solo e de nematoides, redução no uso de agroquímicos e sustentabilidade do agrossistema. “O Brasil está estragando seu solo com o uso excessivo de agroquímicos. Este insumo vem para agregar e não para substituir o bom manejo”, afirma Mendes. “Com esta técnica, o produtor consegue economizar 20% nos custos com insumos e ter incremento de até 7% na produtividade, já no primeiro ano.”
O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Júlio César Reis falou sobre a importância dos sistemas integrados de produção, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e as vantagens do sistema em comparação ao uso exclusivo de lavoura ou de pecuária. Segundo Reis, um estudo recente da Embrapa demonstrou que o produtor que adota este sistema recupera todo o investimento em seis anos e ainda registra ganhos de 10 sacas por hectare. Já no sistema exclusivo, com milho ou soja apenas, no mesmo período o produtor não consegue recuperar o investimento e ainda por cima tem prejuízos. “É claro que este foi um caso específico, mas ele serviu para mostrarmos o potencial do sistema”, garante Reis. “A ideia deste estudo da Embrapa é despertar o interesse dos produtores sobre o sistema e suas vantagens.”
Entretanto, Reis destaca que nem todos as propriedades têm potencial para instalar este sistema, devido ao tamanho da área e ao nível de tecnificação no campo. “Para chegarmos a estes números, é necessário muito trabalho, investimentos e conhecimento. Não é fácil”, afirma o pesquisador.
Nery Ribas, diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), e presidente do Comitê Estratégico Soja Brasil, retratou os resultados do Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) Safra de 2015/2016, quando o produtor paulista João Carlos da Cruz conseguiu colher 120 sacas por hectare. “Queremos um incremento de 10% na produtividade da soja dos participantes do Cesb até 2020. Por isso temos que trabalhar duro para levar aos produtores as informações necessárias para conseguirem ampliar os ganhos”, diz Ribas.
Ao final das palestras, o presidente da Aprosoja Brasil, Marcos da Rosa, deu um “puxão de orelha” geral, inclusive em si mesmo. Segundo ele, o produtor precisa desassociar o uso de agroquímicos ao aumento da produtividade. O ideal é o manejo adequado tanto do solo, quanto das plantas. “Não estamos dizendo que está tudo errado. Mas, sim, que o produtor precisa melhorar seus custos de produção. Só assim teremos margem de lucro”, garante Da Rosa, que também é produtor de soja. “Eu também preciso levar um ‘puxão de orelha’ e repensar meu manejo.”
O Projeto Soja Brasil tem realização do Canal Rural e Aprosoja Brasil com coordenação técnica da Embrapa. O evento tem patrocínio de BASF e Mitsubishi. O apoio de eventos é da Yara Fertilizantes, com apoio Institucional do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (ABRASS) e Comitê Estratégico Soja Brasil. A consultoria é do Safras & Mercado e Somar Meteorologia. Em Mato Grosso, o Canal Rural e a Aprosoja Brasil tem como parceiro realizador o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-MT) e o apoio local da Aprosoja-MT e do Sindicato Rural de Sinop.