No centro da discussão, estão os calçados esportivos mais sofisticados e caros, também chamados de tênis de alta performance. Fabricantes globais, Nike, Adidas, Puma e Asics formaram há dois anos uma entidade, a Abramesp, para tentar excluir da taxação os tênis de maior valor fabricados no Exterior e vendidos no mercado brasileiro.
? Não há dumping no segmento esportivo, que é um mercado complexo, diferentemente do que ocorre com sapatos de couro e nas sandálias femininas ? afirma Marcelo Ferreira, presidente da Abramesp e também presidente da Adidas no Brasil.
Nos bastidores, insinuações de criação de reserva de mercado
Enquanto a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) denuncia irregularidades na importação de cerca de 22,6 milhões de pares de calçados da China, que teria ceifado 42 mil empregos no setor no último trimestre do ano passado, as marcas globais de tênis garantem que os produtos que trazem de fora, por serem mais caros, não fazem concorrência ao calçado nacional. São os tênis com sistema de amortecimento para a prática de modalidades esportivas específicas, cuja tecnologia não existe no Brasil. Seriam cerca de 3,5 milhões de pares importados a cada ano, cujo preço médio, entre US$ 14 e US$ 15, está muito acima do preço do produto asiático, de US$ 3 a US$ 4.
Com a aprovação da sobretaxa de US$ 12,47 ao preço do par importado da China, o clima entre os dois grupos azedou de vez. Nos bastidores, circulam insinuações de que o presidente da Abicalçados, Milton Cardoso, estaria agindo para criar reserva de mercado para o grupo Vulcabras/Azaleia, do qual é diretor-superintendente.
? Estão querendo personalizar para enfraquecer a discussão, porque, na verdade, até agora, em todo o processo, não foi apresentada uma só prova, só falsidades ? rebate Cardoso.
A Abicalçados afirma estar protegendo o país da concorrência predatória, uma vez que a China subsidia fortemente a produção, paga baixos salários, além de manter a moeda local, o yuan, artificialmente subvalorizada em relação ao dólar. A Abramesp, cujos associados informam produzir no Brasil, 60% dos calçados e 80% dos produtos têxteis vendidos no mercado doméstico, critica o protecionismo e diz que as empresas locais demitiram em algumas regiões para abrir vagas no Nordeste, onde recebem incentivos ficais dos governos.