Abigeato no Sul causa prejuízos e deixa pecuaristas gaúchos em alerta

Roubo de animais coloca em risco trabalhos de anos em função da genéticaCampeã do Freio de Ouro da Expointer de 1993, a égua Gaita do Mata Olho dá sinais de abatimento. Tem motivos para esse comportamento. Sobrevivente de um disparo de espingarda na cabeça, sábado passado, em Candiota (RS), o animal ilustra a pressão que o abigeato está colocando sobre os pecuaristas. A perda com a ação dos criminosos é muito mais do que financeira. Remonta também à genética. Afinal, criar um animal de raça consome anos de dedicação e de investimento.

O ataque à Fazenda do Seival, da Cabanha Maufer, matou seis ovelhas que serviriam para o abate e quatro exemplares da raça crioula. Representavam animais de qualidade e que estavam agrupados com Gaita do Mata Olho. Uma das éguas era argentina, enquanto outra descendia de Santa Elba Corajudo, macho importado do Chile. Os danos ? total de R$ 100 mil ? crescem neste último caso, já que a égua estava prenhe e amamentava uma potranca de dois meses. Significam prejuízos nos desenvolvimentos do exemplar recém-nascido e de seus futuros descendentes.

O dono da Cabanha Maufer, Claudir Weiand, lamenta o ataque dos abigeatários ? que não fazem distinção entre os animais e os sacrificam para vender carne, inclusive a de cavalos, a açougues:

? Não é uma criação comum, de venda. É de anos, de genética.

O veterinário do criatório, Luiz Pedro Albuquerque, confirma o esforço para a criação. Uma égua de boa linhagem genética só pega cria com três ou quatro anos de idade. Antes, é preciso um mínimo de dois anos entre doma e treinos. Aquelas destinadas ao Freio de Ouro adicionam um ano de prova à conta. Se tudo der certo, no quarto ano o exemplar pode disputar o prêmio máximo da raça crioula.

Há situações nas quais a reprodução acontece a partir dos nove ou 10 anos. Conforme Albuquerque, uma égua que parir nesta idade e morrer aos 20 anos terá gerado em torno de oito potrancos. Viverá cercada de tratamento especial: pastagem abundante, de qualidade e com adição de suplementos.

? Todo cuidado é em função do patrimônio genético ? diz Albuquerque.

A questão é que existem controvérsias quanto à ameaça que os animais de raça correm. O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos, Roberto Davis, considera o ataque à égua uma fatalidade isolada:

? Esse crime é inédito e raríssimo. Tem de ser coibido com ação policial.

Opinião compartilhada pelo chefe de exposições e feiras da Secretaria da Agricultura, José Arthur Martins:

? Uma linhagem selecionada por anos é irrecuperável ? afirma.

Para a ex-presidente da Associação Gaúcha de Limousin, Maria Pia Costa Rodrigues essas ações criminosas geram reflexos na cadeia, pois há uma retração dos investimentos. A criadora lembra do caso de novilhas angus abatidas em Osório, além de seis touros limousin carneados no ano passado ? que competiriam na Expointer. Além da perda do valor do animal, há o desperdício do investimento.

Nesta sexta, dia 9, o ministro da Justiça, Tarso Genro, deverá começar a discutir em Porto Alegre, capital gaúcha, um plano contra o abigeato. Mas já há proprietários dispostos a investir em segurança, como Claudir Weiand, da Cabanha Maufer.