Todos os dias, um carro visita restaurantes, padarias, supermercados e condomínios de São Paulo para coletar o óleo que foi usado no preparo de alimentos. O material é encaminhado para a ONG Trevo, onde é despejado em um reservatório para a remoção de resíduos. Depois, o produto é bombeado para tanques com capacidade para 150 mil litros.
– Todo óleo vai para a indústria de biodiesel, que fica em Mato Grosso. Nós fazemos um tratamento básico, retiramos a borra orgânica, o resíduo sólido e deixamos só algum tipo de produto para baixar a acidez – explica o presidente da Trevo, Roberto Costa.
O trabalho de reciclagem iniciou há 20 anos. Um dos principais intuitos é o de evitar que o óleo seja destinado para rios e mares. Uma parte do material recolhido tem o valor da venda revertido para doações a entidades assistenciais.
– O dinheiro é revertido para escolas. Nos restaurantes, fazemos permuta com produtos de limpeza, detergentes, sacos de lixo – pontua Costa.
No total, são processados 280 mil litros de óleo por mês. Com essa quantidade, a indústria produz o mesmo volume de biodiesel e, a cada dois meses, o governo federal faz um leilão, para a venda do combustível.
– Hoje um litro de óleo usado vale R$ 1,00 no mercado, algumas ONGs parceiras o adquirem por este valor e repassam por um valor maior, revendendo para fabricação de biodiesel. Quem sabe, no futuro, o biodiesel feito com percentual alto de óleo de cozinha reutilizado pode até ter um valor agregado, como se fosse um produto certificado – destaca o gerente de Sustentabilidade da Abiove, Bernardo Pires.
O projeto Óleo Sustentável, da Abiove, foi lançado em novembro do ano passado e tem o desafio de conscientizar a população sobre a reciclagem do óleo de cozinha residencial. No site do projeto foi lançado um sistema de busca que aponta os locais mais próximos das casas, onde há coleta do óleo de cozinha usado. Um vídeo disponível também dá dicas de como fazer o descarte para a coleta.
– Nosso desafio é coletar o óleo nas residências, porque aí realmente você ainda não tem um sistema montado, como nas lanchonetes e redes de restaurantes. No caso do biodiesel, apenas 1,5% do que é fabricado no Brasil utiliza o óleo de cozinha. Então, a gente acredita que, aumentando os pontos de coleta, aumentando esse mercado, com certeza teremos maior participação de fabricação com esse material – sustenta Pires.
A Abiove destaca que o Brasil é responsável por 25% da produção mundial de soja e é o maior produtor e exportador mundial de grão, farelo e óleo de soja.