– O manejo integrado da resistência (MIR) é uma iniciativa fundamental para evitar o processo de seleção de insetos-praga resistentes às toxinas produzidas pelas plantas geneticamente modificadas e preservar a eficiência e o potencial da tecnologia Bt, evitando prejuízos à lavoura – afirma Rodrigues.
Coordenada pela Associação Paulista dos Produtores de Sementes (APPS), a campanha institucional Manejo Integrado da Tecnologia Bt é resultado de um grupo de trabalho da Abrasem, do qual fazem parte técnicos das empresas produtoras de sementes.
O milho Bt é obtido por meio da transformação genética de plantas de milho com genes da bactéria Bacillus Thuringiensis (Bt), fazendo com que a planta produza proteínas tóxicas para algumas espécies de insetos. A tecnologia, criada em 1997 nos Estados Unidos, se espalhou rapidamente devido a sua eficiência e há pouco mais de cinco anos é utilizada no Brasil, representando atualmente cerca de 80% das sementes de milho comercializadas no país.
De acordo com Rodrigues, mesmo com a produção contínua das toxinas ao longo do ciclo, as plantas Bt podem não controlar todas as pragas existentes, pois na população destas podem existir indivíduos naturalmente resistentes. Daí a importância do manejo integrado.
Segundo ele, investindo simultaneamente no plantio de refúgio (plantio de áreas de milho não Bt adjacentes à plantação de milho Bt) e em outras práticas como a dessecação antecipada seguida de inseticida, controle de plantas daninhas, tratamento de sementes, monitoramento seguido de inseticida e rotação de culturas, o produtor conseguirá garantir a longevidade da tecnologia.
A lavoura do produtor Francisco Luçardo foi plantada com uma semente especial, transformada com material genético da bactéria Bt. Os genes são responsáveis pela produção de uma proteína, capaz de matar a lagarta que ataca a plantação. Segundo ele, as vantagens do milho Bt são sentidas na produtividade do grão, e também no bolso do agricultor.
– A gente tinha uma freqüência de aplicação de inseticidas na propriedade que era bastante variável: três, quatro, cinco… Com a introdução do milho Bt, diminuímos bastante as aplicações, fazendo uma ou nenhuma – disse.
Os pesquisadores consideram que a melhor maneira de evitar o desenvolvimento de populações de insetos resistentes ao milho Bt é combinar lavouras de milho Bt com áreas plantadas com híbridos sem a tecnologia Bt. Dessa forma, os poucos possíveis insetos resistentes que sobreviverem na lavoura Bt irão cruzar com insetos suscetíveis presentes na lavoura de milho não Bt. Algumas possibilidades de desenho da lavoura, utilizando refúgio, estão disponíveis no site da campanha.
– A indústria fez a parte dela ao disponibilizar essa tecnologia, que foi um grande achado para a agricultura mundial. Mas é necessário que o produtor adote as práticas corretas de manejo de resistência de insetos para evitar a evolução dessa resistência – explica José Magid Waquil, PHD em entomologia, que integra o grupo de consultores contratados pela Abrasem para a realização das palestras.
Na opinião de Waquil, a campanha de conscientização dos produtores é de extrema importância.
– O otimismo é uma característica inerente ao produtor rural, faz parte de sua natureza. Com isso, existe um sentimento de que a indústria sempre conseguirá se superar e criar novas tecnologias que solucionem os problemas. Mas o agricultor precisa entender que a capacidade da ciência não é infinita e que ele precisa fazer a parte dele – define.
Cássio Camargo, diretor executivo da APPS, comenta que o produtor de milho brasileiro já possui amplo conhecimento das práticas corretas de manejo, mas ainda não partiu da teoria para a prática.
– As medidas necessárias envolvem esforço e investimento, mas é preciso entender que são a única forma de o produtor evitar prejuízos no futuro – resume.
Outra importante ferramenta é o site do projeto, que traz todas as informações necessárias para o produtor, incluindo dados técnicos, além de artigos e a programação de palestras.