Os incêndios que atingiram o Pantanal neste ano causaram prejuízos para os produtores que atuam no bioma. Além do impacto sentido no bolso, pecuaristas relatam a difícil situação de estar sob o julgamento da sociedade, que muitas vezes responsabiliza o homem do campo pelas queimadas.
A propriedade do pecuarista Ricardo Arruda foi uma das primeiras atingidas pelos incêndios no Pantanal. Por lá, o fogo consumiu mais de 80% dos 9.400 hectares — e destruiu cercas, pontes, áreas de reservas e pastagens. Arruda relata que o estrago só não foi maior devido ao trabalho preventivo dos aceiros e da ajuda dos bombeiros.
“Com equipes limitadas, eles foram bravos homens, que procuraram de todas as formas combater e impedir o avanço das chamas no Pantanal. Sem eles, o resultado teria sido pior ainda, com mais infraestrutura comprometida, com risco até de comprometer curral, sede da fazenda e estrutura de acesso”, conta o produtor.
Em outra propriedade, a mão de obra dos funcionários também foi fundamental durante a passagem do fogo pela fazenda, principalmente para salvar o gado. “Graças a Deus, não perdemos nenhuma cabeça, mas foi muito sofrido”, diz o vaqueiro Gelson Firmino da Silva.
O pecuarista Cristóvão Afonso da Silva não teve a mesma sorte e não conseguiu salvar todos os animais. Além de 30 cabeças de gado perdidas, 40 quilômetros de cercas e 11 mil hectares de pastagens foram destruídos pelo incêndio que invadiu a propriedade. “O prejuízo é enorme. A gente não calculou ainda, mas, só para se ter uma ideia, cada quilômetro de cerca custa R$ 9.000, então imagina aí 40 quilômetros de cerca quanto vai dar”, diz.
Segundo o produtor, o fogo começou fora da propriedade e foi acidental. “Teve três origens esse fogo no Pantanal, e se espalhou pelo Pantanal inteiro. Como o material para combustão era muito grande, qualquer faísca ou qualquer coisinha e ele se tornaria um incêndio como se tornou”, diz Cristóvão.
Ricardo Arruda desabafa que, em meio a tudo isso, o prejuízo financeiro é apenas um dos problemas. “O maior prejuízo que recai sobre a gente é o de imagem, uma vez que insistem em imputar sobre os pecuaristas a culpa, que não é nossa, pelos incêndios florestais”, ressalta.
Seca provocou estiagem
Em meio à discussão sobre de quem seria a responsabilidade pelos incêndios no Pantanal, em outubro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que as queimadas foram provocadas pela seca. “A grande causa das queimadas, como todos sabem, é o problema da estiagem, o excesso de calor, tempo seco, ventos fortes, que trouxeram queimadas ao patamar que assistimos este ano”.
Durante audiência no Senado Federal, Salles também defendeu o avanço da pecuária na região, como uma forma de combate às chamas. “Nós ouvimos de várias fontes diferentes a necessidade de ter um reconhecimento do papel da criação de gado no Pantanal, uma vez que contribui para diminuir o que há de excesso de matéria orgânica – capim, pasto, ajuda a reduzir”.
Entre janeiro e novembro, o Pantanal já acumula 21.812 focos de incêndio, mais do que o dobro do verificado nos 12 meses do ano passado, quando foram registrados 10.025 focos no bioma, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).