A recente onda de protestos de agricultores em vários países europeus trouxe de volta à discussão o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
Após 25 anos de negociações, a concretização desse alinhamento entre os blocos permanece incerta.
No entanto, um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) destaca os potenciais benefícios econômicos para o Brasil, especialmente para o setor do agronegócio, caso o acordo entre em vigor.
Entre 2024 e 2040, o acordo provocaria um crescimento de 0,46% no PIB brasileiro – o equivalente a US$ 9,3 bilhões a preços constantes de 2023 –, em relação ao cenário de referência. O estudo mostra também que, em termos relativos, o país obteria ganhos maiores que os da União Europeia (aumento de 0,06% no PIB) e dos demais países do Mercosul (alta de 0,20%).
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Fernando Ribeiro, coordenador de estudos de comércio internacional do Ipea, ressaltou a importância do agronegócio brasileiro nesse contexto: “No caso do setor do agronegócio, ele seria o principal beneficiário desse acordo, por quê? Porque o Brasil é um país bastante competitivo nesse setor e a União Europeia é um grande importador de bens agroindustriais.”
Outro aspecto relevante destacado pelo estudo é a possível redução de custos de produção em diversos setores da economia brasileira.
Segundo Ribeiro, ao reduzir suas tarifas de importação, o Brasil poderia ter acesso a insumos produtivos e bens de capital que contribuiriam para a diminuição dos custos de produção no país, beneficiando não apenas o agronegócio, mas também outros setores industriais e de serviços, além dos consumidores.
Além dos benefícios econômicos diretos, o acordo poderia aumentar os investimentos no Brasil em 1,49% e proporcionar um ganho na balança comercial de 302 milhões de dólares, valor quase 50% acima dos demais países do Mercosul.
Apesar das potenciais vantagens econômicas, o processo de negociação enfrenta desafios significativos, incluindo a oposição de alguns países europeus e preocupações com possíveis alterações nos termos do acordo ao longo do tempo.
Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), enfatizou a importância de garantir um mecanismo de reequilíbrio de concessões para proteger os interesses dos produtores brasileiros.
“O que a gente tem pedido ao governo e aos negociadores é que, nesta fase em que o acordo ainda não foi concluído – ou seja, nem tem previsão para que isso aconteça -, mas que estão sendo negociadas questões adicionais, haja um mecanismo que garanta um reequilíbrio de concessões caso regulamentos e concessões unilaterais da União Europeia venham a prejudicar o acesso de produtos agropecuários, como é o caso, por exemplo, da legislação de desmatamento, que entrou em vigor em 2023 pela União Europeia e passará a ser cobrada em 2025. Então, sim, o acordo, do ponto de vista de acesso ao mercado, no formato como ele foi desenhado e fechadas as negociações no texto de 2019, é muito bom para o setor agropecuário; nós somos favoráveis. O que a gente pede é a garantia de que isso ocorra, e a preocupação é que essas legislações tradicionais possam impactar naquilo que foi fechado no texto de 2019.”