Desde a década de 70, ele está na mesma propriedade. Sem derrubar uma árvore sequer, Ferreira tornou o lugar produtivo e atualmente faz aqui todo o processo de produção de verduras. Da muda em cultivo protegido, ao beneficiamento e embalagem. São duas mil bandejas e pelo menos 20 caixas por dia de tomate, vagem e pimentão.
Financeiramente, é a produção de verduras que mantém a propriedade atualmente. Porém, a sustentabilidade do lugar se deve a outra iniciativa do proprietário: a de preservar boa parte da área. No local, área de Mata Atlântica, de 650 hectares, 350 são mantidos intactos há 30 anos. Parte preservada por lei, como determina o Código Florestal, e parte por simples iniciativa do produtor.
São as chamadas Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs). Esta modalidade de preservação foi instituída no Brasil 20 anos atrás. Calcula-se que pelo menos 500 produtores rurais tenham aderido a esta causa. É uma espécie de compromisso com o meio ambiente, independente do que diz a lei.
? Me senti na obrigação de fazer isto porque é uma área. Era uma área tão preservada ainda, uma mata, uma fauna, uma flora tão preservadas que eu achei que seria importante perpetuar isso ? diz Ferreira.
Na propriedade de Claudio, estão divididas e identificadas três áreas de RPPNs. Para mantê-las preservadas, ele tem até fiscais. São funcionários como Eberson de Oliveira, que monitora a conservação das árvores, da água e combatem a caça e o desmatamento.
? No caso de alguma ocorrência dentro destes problemas a gente comunica os responsáveis pra tomar as providências cabíveis sobre o assunto ? explica Oliveira.
A iniciativa de Claudio é cada vez mais comum, diz a bióloga Mariana Machado, que trabalha na Fundação SOS Mata Atlântica. Em todo o Brasil, quase 700 mil hectares estão protegidos atualmente, graças às RPPNs.
? Existe sim um movimento por parte dos produtores rurais de tentar conciliar a sua produção com a conservação dos recursos naturais, porque a produção deles também depende desses serviços, desses recursos naturais. Então, a gente acredita que com estímulo, com apoio os proprietários rurais também podem fazer parte deste esforço de conservação ? diz Mariana.
A bióloga explica ainda que uma RPPN pode ser explorada para pesquisa científica projetos de educação ambiental ou de turismo, sem que comprometa a preservação.
Como incentivo, o produtor tem a isenção do Imposto da Área Preservada (ITR) e prioridade de crédito em bancos públicos.
? Eu queria realmente deixar alguma coisa para o futuro, uma contribuição de preservação realmente concreta por futuro ? diz o agricultor de Ibiúna.
Além de áreas de Mata Atlência, existem reservas particulares também em regiões como Cerrado, Pantanal, Caatinga e Pampas do Sul. O produtor que se interessar em criar uma reserva particular deve procurar um órgão de Meio Ambiente no município.