Carga de 10 toneladas de sementes era uma bonificação da empresa por ter vendido sementes com baixo vigor na safra passada
Manaíra Lacerda | Nova Mutum (MT)
Além do problema climático, que está atrasando o plantio da soja, outro problema tem afetado alguns agricultores de Mato Grosso. Em Nova Mutum, encontramos o caso de um produtor que recebeu semente mofada. Além do desgaste, o agricultor Alberto Schopinski vai demorar ainda mais para semear o grão, já que ele ainda aguarda uma solução da empresa Fiagril.
O agricultor recebeu uma carga de 10 toneladas de sementes de soja para semear parte da lavoura. Porém, quando começou a abrir os pacotes, Schopinski percebeu que o grão estava mofado. Segundo ele, as sementes estavam opacas, com uma coloração esverdeada e soltavam um pó que cheirava a bolor.
Depois de uma análise, o laboratório constatou 16% de dois tipos de fundos, além de 57% de bactérias.
– A cada dia sem solução, eu tenho uma perda considerável. Nossa janela de plantio vai atrasar, a ferrugem vai chegar mais cedo. É responsabilidade de quem vende dar um produto em condições de plantio. O produtor, quando vai implantar a sua atividade, ele escolhe os melhores produtos, ninguém planta esperando prejuízo – reclama o sojicultor.
Para piorar, a carga recebida pelo Alberto era uma bonificação da empresa, que estava pagando por ter vendido na safra passada um lote de sementes com baixo vigor. Visitamos um talhão da propriedade em que a semente estava no mesmo galpão que o produto mofado. A diferença é que essa variedade foi entregue por outra empresa. A soja desta área está se desenvolvendo bem.
Na avaliação do agrônomo Naildo Lopes, que presta assistência técnica para o produtor, acredita que o problema não está no armazenamento. O profissional argumenta que o produto saiu da indústria mais de quatro meses antes da entrega, que ocorreu no dia 7 de outubro, e ninguém sabe em quais condições as sementes foram armazenadas na indústria. Outro indício de que a carga não é confiável está no lote registrado na nota fiscal e nos pacotes, diferente do lote que veio marcado no boletim de identificação das sementes.
– O caso do Alberto não é isolado. Isso está acontecendo na nossa região, está acontecendo no estado. Chegou a semente na sua propriedade, primeiro olha o boletim de análise, verifica se a etiqueta do boletim de análise está na sacaria correta e se esse número bate com o da nota fiscal. A minha recomendação ao produtor é não plantar essa material, porque ele vai investir quase 20 sacos por hectare pra ter um ser vivo que não vai nascer? As perdas são muito maiores do que esperar mais uns três ou cinco dias pra fazer o plantio – orienta o agrônomo.
Outro lado
A assessoria de imprensa da Fiagril informou, por meio de nota, que a empresa atua apenas como vendedora e não como produtora de sementes. Eles afirmam ainda que o problema do agricultor Alberto Schopinski já foi resolvido.
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