– [Solicitamos] que o governo do Brasil, no menor tempo possível, reconheça o novo governo paraguaio e restabeleça a fraterna relação que sempre existiu entre os dois países. Esta decisão é fundamental para dar tranquilidade ao povo paraguaio e à comunidade brasileira [que vive em território paraguaio] – diz o documento.
O pedido foi entregue ao cônsul brasileiro em Ciudad del Este, embaixador Flávio Roberto Bonzanini, durante reunião com os representantes dos brasiguaios. Os números envolvendo a comunidade variam, de acordo com a contabilidade feita. Os brasiguaios consideram 350 mil trabalhadores, os produtores rurais paraguaios contabilizam 110 mil e o governo trabalha com 6 mil.
Os brasiguaios relatam que sofreram perseguição nos últimos anos e ficaram impedidos de trabalhar. A maioria vive nas áreas de fronteira do Brasil com o Paraguai e se queixam da falta de apoio das autoridades paraguaias e reclamam das tensões no campo. Eles contam que são ameaçados por carperos (sem-terra paraguaios) e sofrem discriminação porque não são paraguaios.
No documento encaminhado à presidente, os brasiguaios contam ainda que muitos estão no país há mais de 40 anos. É o caso do produtor rural gaúcho Áureo Friguetto, que foi para o Paraguai há 42 anos, e participou da reunião com o cônsul.
– O presidente Franco nos deu garantias de que vai seguir a ordem da Justiça. Antes, não tínhamos garantia alguma. Agora é diferente. É isso que precisa ser compreendido – disse ele.
O novo presidente do Paraguai chamou, na última sexta, dia 22, os brasiguaios de “cidadãos paraguaios”, e o ministro das Relações Exteriores, José Félix Fernández Estigarribia, também prometeu dar atenção ao tema. No entanto, lembrou que a questão agrária no Paraguai é delicada. O ministro do Interior, Carmelo Caballero, disse que mais do que promessas, o governo adotará ações de proteção aos brasiguaios.
A situação no Paraguai
Após conflito entre policiais e camponeses em uma propriedade rural em Curuguaty, na fronteira do Paraguai com o Brasil, no dia 15 de junho, o partido de oposição governo paraguaio encaminhou pedido de impeachment contra o então presidente Fernando Lugo. O confronto deixou 17 mortos.
A maioria dos deputados paraguaios acusou o presidente Fernando Lugo de promover conflitos entre ricos e pobres e invasões de propriedades particulares no país. A acusação foi um dos argumentos usados pela comissão, formada por cinco deputados, encarregada de oficializar as alegações no processo de impeachment do presidente.
Com placar de 39 votos a favor e 4 contra, o Senado do Paraguai aprovou na última sexta, dia 22, o impeachment de Fernando Lugo. Em seu lugar, assumiu Federico Franco, que assumiu o poder em tom conciliador a respeito dos conflitos agrários.
Para a comunidade internacional das Américas, faltou tempo para Lugo se defender. Em protesto contra a maneira como ocorreu o processo de impeachment no país, Brasil, Argentina e Uruguai decidiram suspender neste domingo, dia 24, o Paraguai do Mercosul, bloco comercial que reunia os quatro países.
– [Todos os países que assinam o presente documento querem] expressar sua mais firme condenação da ordem democrática que ocorreu na República do Paraguai, pela inobservância do devido processo – diz o comunicado. – [Decidimos] suspender o Paraguai imediatamente. [É uma] declaração dos Estados-Partes do Mercosul e Estados Associados sobre violação da ordem democrática no Paraguai.
Em entrevista à imprensa, Lugo reiterou que foi alvo de um golpe de Estado e fez um apelo para que os paraguaios reajam com manifestações pacíficas.