Uma das queixas levadas a Lugo por dirigentes da Federação Nacional Camponesa (FNC), a maior do Paraguai, diz respeito ao aumento do número dos chamados “brasiguaios” – apelido dado aos milhares de produtores brasileiros que ocupam a faixa fronteiriça com o Brasil.
Em sua maioria, os “brasiguaios” se dedicam ao cultivo da soja, principal fonte de renda do Paraguai, em grandes extensões de terra. Segundo números extraoficiais, quase 200 mil “colonos” brasileiros residem no país vizinho.
A FNC reúne cerca de 270 mil famílias de pequenos lavradores que em sua maioria cultivam algodão e cuja produção se encontra em franco retrocesso devido ao avanço das plantações mecanizadas de soja.
Mais de 10 mil manifestantes ocuparam os arredores do Parlamento paraguaio, em Assunção, para defender a luta agrária, após caminharem de forma pacífica pelo centro de Assunção, em um evento que se repete todo mês de março há 16 anos. Cerca de três mil policiais acompanharam o protesto, que provocou engarrafamentos na capital paraguaia. Logo depois, dirigentes da federação foram recebidos em uma audiência por Lugo
Os lavradores, que começaram a chegar a Assunção em caminhões durante os últimos dias, acamparam a quase quatro quilômetros do Congresso paraguaio.
Odilón Espínola, secretário-geral da FNC, declarou em entrevista coletiva que os dirigentes expressaram a Lugo a necessidade do pagamento de subsídios para o setor agrícola após a elaboração de uma análise dos efeitos causados pela seca nos cultivos paraguaios nos últimos meses. Segundo Espínola, a conversa não discutiu quantidades de recursos financeiros para a ajuda.
O secretário-geral assegurou que a seca afetou 90% dos cultivos em algumas regiões do Paraguai e explicou que algumas famílias perderam inclusive sua produção de subsistência.
Lugo disse que os subsídios devem incluir o pagamento ou o perdão das dívidas contraídas pelos camponeses para a aquisição de sementes e outras matérias-primas, assim como a assistência alimentar para as áreas mais afetadas.
A FNC também exigiu do chefe de Estado paraguaio um plano de reforma agrária integral que inclua o combate ao latifúndio, assim como um maior acesso à educação e à saúde.
Após ter chegado ao poder em 15 de agosto de 2008 à frente de uma coalizão de amplo espectro ideológico e que inclui várias organizações camponesas, Lugo prometeu uma reforma agrária integral e a distribuição de terras aos lavradores sem terrenos para cultivar.
No entanto, a FNC se manteve à margem do grupo que apoiou o ex-bispo e, em sua manifestação em março de 2008, incentivou a população a votar em branco e protestou contra o “eleitoralismo” relacionado às eleições gerais ocorridas em abril do ano passado.