Muitas coisas foram inéditas nesta edição da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), mas uma coisa não mudou.
Assim como em algumas edições anteriores, a principal feira de tecnologia agrícola da América Latina começa sem algumas linhas de crédito subsidiadas do Plano Safra, entre elas, o Moderfrota, usado na compra de máquinas agrícolas; e o Pronaf, de fortalecimento da agricultura familiar.
E isso preocupa o setor. Segundo o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos, seria necessário, pelo menos, R$ 5 bilhões para suplementação orçamentária, ainda para o calendário-safra prestes a ser encerrado. No entanto, o pedido ainda não foi atendido.
“Entre fazer a Agrishow com ou sem Moderfrota, é óbvio que é melhor com o programa, com a taxa de juro fixada em 12,5%. Mas não aconteceu. Se o produtor for ao mercado, vai encontrar juros em 16%, 18%. Na faixa do Pronaf, em que o juros é de 5,5%, a diferença é maior ainda. A gente tem expectativa que a suplementação saia. Sabemos que o governo não tem obrigação, mas seria melhor para o agricultor, para os fabricantes e para o governo, que arrecada mais. Ou seja, todo mundo ganha”, diz Estevão Bastos.
Polêmica com ministro não deve afetar Agrishow
A Abimaq é uma das organizadoras da Agrishow. “Com as linhas seria muito bom. Sem as linhas será pior. Mas ainda não dá para estimar o quanto pior será. A visitação está melhor, mas com dois dias ainda não dá para fazer uma estimativa. Mas a expectativa é boa, mas claro, depende de muitas variáveis, o crédito é um deles”, afirma. Na opinião dele, o caso envolvendo a Agrishow e o ministro Carlos Fávaro não deve afetar o resultado final.
Para o próximo Plano Safra, a Abimaq solicitou R$ 34 bilhões para o Moderfrota e R$ 11 bilhões para o Pronaf. “A gente precisa de um volume razoável, que dure todo o Plano Safra, e juros fixos. Por isso, pleiteamos um volume robusto”, explica Bastos.
Nesta terça-feira (2), no segundo dia da Agrishow, o vice-presidente para a América do Sul da Case IH, Christian Gonzalez, reafirmou a importância do subsídio. “O Brasil é um país dependente de crédito governamental. É fundamental. A gente não pode minimizar essa importância. E nós precisamos deste crédito. É claro que buscamos soluções de crédito do mercado, mas é uma opção cara, então precisamos de crédito governamental”, ressalta.
Opções de venda
Na falta de crédito subsidiado, ganham espaço os bancos comerciais, as fábricas e as cooperativas de crédito. Na Agrishow, o Banco Santander está oferecendo uma linha de taxa pós-fixada, com uma juros em 11,25% para operações fechadas em até 92 meses.
O superintendente de agronegócio da instituição financeira, Ricardo França, salienta que R$ 400 milhões foram negociados apenas no primeiro dia. “Nossa expectativa é chegar em R$ 2 bilhões”, afirma. Na edição do ano passado, foram R$ 1,4 bilhão, superando em 40% a expectativa inicial.
A projeção é de uma queda, ainda que “tímida”, na taxa de juros a partir do segundo semestre, o que tornaria mais vantajosa a modalidade ao produtor.
Segundo o gerente comercial agrícola da Yanmar, Fernando Figueiredo, sem o crédito disponível, a opção tem sido utilizar as linhas oferecidas pelos bancos de fábrica. “Desta forma é possível vender bem, mesmo com o produtor na expectativa pelo novo Plano Safra”.
É o caso do Banco CNH. Segundo o diretor comercial da empresa, Márcio Contreras, com o fim dos recursos subsidiados, a aposta é no CDC, em que o recurso é captado no mercado financeiro e emprestado aos produtores usando o bem como garantia.
“Embora seja uma operação cara e complexa, ainda é muito mais vantajosa que juros livres. É uma solução que será cada vez mais popularizada com o mercado de títulos do agronegócio, especialmente na agricultura empresarial”, explica.
Pequenos e médios produtores
Na visão de Contreras, as linhas subsidiadas são importantes e serão cada vez mais direcionadas para pequenos e médios produtores. “Essa nova linha do BNDES para agroexportadores atrelada ao dólar também é uma solução interessante e que deve crescer”, afirma.
Na falta de recursos, outra opção é o consórcio. Com taxas em torno de 6%, o produto costuma ter um salto quando o subsídio acaba. “O produtor não sai da concessionária com o produto na hora, pode ser que leve anos até ele ser contemplado, mas para quem pensa no longo prazo e quer planejar a compra é uma excelente solução e que costuma ter mais busca quando o crédito está escasso”, o CEO da Sicoob Credicitrus, Walmir Segatto.