No começo deste ano, os produtores temiam uma redução na oferta de fertilizantes para a safra 2022/2023, em virtude dos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Agora, o que preocupa os produtores, são os custos elevados dos insumos, e em todo o Brasil, muitos estudam reduzir a quantidade de fertilizantes aplicados, como forma de conter os gastos.
Com valorização de 61,23% para o NPK, produtores estudam reduzir a aplicação em até 50% na safra 22/23.
Nos últimos 12 meses, a ureia registrou um aumento em dólar de 31,26% e o fosfatado 35,17%. O cloreto de potássio teve a alta mais expressiva, em torno de 96%.
Considerando que em média se utiliza 1/3 de cada um dos itens do trio NPK, o peso desses insumos no bolso do produtor em um ano aumentou em 52,66% em dólar e 61,23% em reais.
Antes da guerra na Ucrânia, os preços dos fertilizantes já estavam elevados, mas a partir do início do conflito em fevereiro, os preços dispararam e atingiram valores recordes.
No entanto, os preços dos fertilizantes passaram a recuar a partir do fim de abril e início de maio.
“Houve a visita do presidente Bolsonaro à Rússia, antes da guerra, o que acabou surtindo um efeito positivo, porque eu acredito que a Rússia nos privilegiou na medida do que ela pôde. Ela enviou [insumos] ao Brasil, antes de enviar para outros países. Então, nós começamos a ver a partir de meados de abril um fluxo grande de navios russos vindo para o Brasil, com fertilizantes”, diz o diretor de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello.
Segundo a StoneX, houve uma forte recuperação do atraso das negociações de fertilizantes do Brasil para o segundo semestre deste ano.
Em fevereiro de 2022, as negociações dos principais insumos estavam em 28%, volume 33% menor do que em fevereiro do ano passado. Já em maio deste, 60% do volume necessário para a segunda metade do ano, já havia sido adquirido pelos produtores.
“Por que as compras atrasaram? Isso aconteceu porque os preços vinham muito altos já desde a guerra e as relações de troca, principalmente com grãos, não estavam fantásticas. O número de sacas de soja ou de milho que você tinha que considerar para pagar 1 tonelada de fertilizante era uma das piores dos últimos anos”, afirma Mello
Aplicação de fertilizantes
Esse período de negociações está sendo marcado por muita oscilação nos preços dos adubos e das commodities. E mesmo com a queda na oferta dos insumos não se confirmando, os produtores têm enfrentado um novo desafio, a redução da aplicação de fertilizantes na safra 2022/2023.
Edimar Ceolin, produtor de soja e milho no Rio Grande do Sul, além de algumas culturas de inverno como trigo e arroz, prevê uma redução geral na aplicação de fertilizantes no estado, em razão dos custos elevados.
“Fora de ser produtor rural, eu dou assistência técnica no estado, em 41 mil hectares, e a diminuição na aplicação de adubos neste ano é geral”, conta.
“Eu indicaria a todos os produtores tentar fazer uma análise, o mais rápido possível, para não tirar, porque as vezes estando caro para o químico, o cara vai tirar e a perda na produção será refletida de imediato, não tem muito o que fazer, o corte radical dentro de uma área não pode acontecer, e para que o cara saiba os limites, só com uma boa análise de solo”, complementa.
“Precisamos obter o máximo de produtividade nesta nova safra para tapar um pouco dessa última frustração que pegou mais da metade do estado”, defende.
O produtor de grãos e presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, no Paraná, Gustavo Ribas, destaca a condição do solo em algumas áreas do estado, mas ressalta as preocupações com as margens dos produtores. “Quem tem terra própria, e vem com uma adubação boa, uma adubação cheia há muitos anos, você tem estoque no chão e dá condições das pessoas contarem com pouco adubo”, afirma.
Para o diretor de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello, é possível reduzir a aplicação de insumos. “O nosso solo é fraco, mas a aplicação de insumos acontece há 5, 10, 15 anos ininterruptos, formando uma reserva acomulado no solo. Com isso, o produtor pode comprar menos. E isso aconteceu”, conta.
“Acho que o produtor brasileiro tomou as medidas necessárias, até de sustentabilidade, no sentido de fazer o uso racional do fertilizante. Ao invés dele ir lá comprar, como ele faz todo o ano, ele aproveitou o banco de fertilizantes, principalmente de fósforo e potássio, mas esse foi um uso racional, feito no momento certo, adequado, de modo muito importante, que ajudou inclusive a não ter falta, porque se nós tivéssemos usado tudo que usamos no passado, poderíamos ter até falta, agora a situação está normalizada, a oferta até subiu, e isso foi muito importante”, explica.