Agropocket

'Barreira comercial fajuta', diz Marcos Montes sobre decisão de Parlamento Europeu

O ministro da Agricultura cobra maior atuação do corpo diplomático para evitar medidas como a adotada recentemente pelo Parlamento Europeu

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Marcos Montes, diz que o principal desafio do país atualmente é mudar a percepção do mundo sobre o agronegócio brasileiro, o que envolveria um trabalho de “capacitação” dos nossos embaixadores.

“Se os embaixadores não conhecem o nosso agro, não vão ter como dialogar com países profundamente politizados como a França. Somos nós, do ministério, que acabamos fazendo o papel de relações exteriores”, disse Montes nesta segunda-feira (19), durante palestra no Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

O descontentamento de Montes com o corpo diplomático brasileiro tem um agravante recente.

Há cerca de uma semana, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução proibindo a compra de produtos provenientes de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2019.

Foi uma medida extremamente dura, que o ministro da Agricultura considera ser fruto do receio europeu da competitividade do agro brasileiro.

“Criaram uma barreira comercial fajuta. O Parlamento Europeu levantou a bandeira dos agricultores de lá em busca de votos, e isso nos prejudica”, disse.

Segundo Montes, não há intenção do governo brasileiro de confrontar os parlamentares europeus, mas convencê-los de que precisariam dos nossos alimentos, especialmente nesse momento em que há um problema de segurança alimentar no mundo decorrente da guerra entre Rússia e Ucrânia e dos efeitos da pandemia sobre as cadeias de abastecimento globais.

“Já há um avanço nesse sentido, com o envio de adidos às embaixadas para dar suporte ao corpo diplomático”, disse.

O ministro reconheceu que também há problemas de comunicação no governo, que impedem que ações positivas do país no campo do meio ambiente sejam divulgadas. “Costumo falar que deveríamos comprar 200 helicópteros e pintar de fluorescente para que todos vejam que estamos patrulhando. Temos muitos problemas, mas precisamos mostrar que estamos agindo”, afirmou.

Montes disse ainda que reconhece a importância histórica e cultural da Europa, mas que o peso do continente na economia mundial já não seria tão relevante. “O mundo está deslocando o seu dinamismo, a Europa não tem mais a importância [econômica] que tinha no passado. É a Ásia que tem agora”, disse.

Por essa lógica, segundo o ministro, o Itamaraty deveria rever suas estratégias. “Deveríamos ter uma cultura de mandar embaixadores mais experientes para onde o Brasil precisa mais. Eles deveriam ir para a Indonésia, Taiwan, Vietnã”, disse.

Fertilizantes

O ministro da agricultura falou também sobre a necessidade de o país criar políticas que incentivem o desenvolvimento de uma indústria nacional de fertilizantes. Hoje o país importa 85% do fertilizante utilizado.

“Há necessidade de estimular essa produção interna com isenções de tributos, por exemplo, para que no longo prazo consigamos produzir pelo menos 50% do fertilizante que necessitamos”.

Ele apontou ainda a necessidade de se rever legislações que impediriam a exploração de reservas, com as minas de potássio (um dos tipos de fertilizantes) que existem no município de Autazes (AM). “Por lá há uma enorme jazida há oito quilômetros de terras indígenas que não pode ser explorada. Acho que temos um problema de legislação aí”, comentou Montes.

Construir toda uma estrutura de abastecimento interna exige um programa de longo prazo, e o problema da falta de fertilizante é urgente, agravado pela guerra entre Rússia e Ucrânia.

Vale destacar que a Rússia é o maior exportador mundial de fertilizante NPK – nitrogenado (N), de fósforo (P) e de potássio (K).

A resposta imediata para o problema, segundo o ministro, é buscar novos fornecedores. “Tereza Cristina [que deixou a pasta da agricultura para disputar uma vaga ao Senado] fez uma peregrinação pelo mundo em busca de países que poderiam fornecer fertilizante. Agora eu passei a fazer isso. Fui ao Egito, Jordânia ao Marrocos, que tem 48% das reservas de fósforo do mundo.”