O greening é uma velha doença conhecida dos citricultores.
A patologia é causada pela bactéria Candidatus liberibacter spp e provoca desfolha, seca e morte dos ramos.
Os frutos apresentam maturação irregular, redução de tamanho, deformação e queda intensa.
O produtor rural Emerson Fachini, do município de Monte Azul Paulista, no interior de São Paulo, sabe bem como essa debilidade prejudica a produção.
“Hoje, o greening é o carro-chefe dos problemas. A perda é muito grande para o setor. Há perda de produtividade, perda de qualidade, é uma briga constante. Ele [greening] entrou aqui no Brasil em 2004 e a gente está tentando entender melhor como funciona toda a fisiologia da planta para vencer essa luta”, diz.
Pesquisa
A doença ainda não tem cura definitiva, mas os produtores buscam encontrar ferramentas que amenizem os prejuízos.
Uma dessas soluções é um novo biofertilizante que surgiu de uma pesquisa realizada pelo Instituto Agronômico de Campinas ((IAC-APTA).
O estudo teve início há 20 anos apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com o intuito de aprofundar a causa do amarelinho, outra patologia causada pela clorose variegada dos citros (CVC), que atinge os pomares de laranja.
Com a pesquisa avançada foi percebido que a forma com que a clorose causava doenças nas plantas era similar ás patologias presentes em seres humanos.
A partir daí, a solução foi buscar uma composição que agisse com o mesmo princípio.
Mas para isso teria que ser uma molécula sustentável e que fosse economicamente viável para a agricultura.
A descoberta da molécula N-Acetil-Cisteína (NAC) para o combate ao greening nos pomares de laranja veio mais tarde, em 2013.
A pesquisadora do IAC Alessandra A. de Souza e sua equipe chegaram à conclusão de que a molécula NAC traria bons resultados, pois já era usada para tratamento de infecções bacterianas das vias aéreas de humanos.
A NAC tem propriedade de quebrar o campo dessas bactérias capazes de colonizar as folhas, mas também é uma molécula antioxidante, de acordo com o estudo. Como o maior problema causado pelo greening é a formação de radicais livres, que estressam e envelhecem a planta, um ativo que combatesse os radicais livres poderia diminuir os efeitos do greening na lavoura.
“A gente viu que os radicais livres diminuíram e aquelas enzimas boas, que são as enzimas que destoxificam os radicais livres aumentaram. Com isso diminuem a Clorose e a quantidade de bactérias nas plantas”, diz a pesquisadora.
Startup desenvolveu formulação via fertilizante
O próximo passo foi implantar a descoberta no campo.
A startup CiaCamp elaborou pesquisas nos pomares até chegar em um fertilizante produzido com a molécula NAC.
“É um biofertilizante com uma tecnologia que traz aminoácido diferenciado que age como um equilibrador, pois é um antioxidante que reduz o estresse da planta”, destaca a CEO da CiaCamp, Simone Picchi.
Outro ponto positivo é que o produto traz sustentabilidade para a cadeia produtiva.
“Ele é absorvido pela planta, porque em seu ciclo entra como cisteína, que é um aminoácido comum. Ele não é residual e não agride o meio ambiente. Ele prepara a planta para responder melhor a doença e não vai afetar, por exemplo, as abelhas, no trabalho de polinização”, afirma.
Resultados
O fertilizante foliar organomineral é fabricado com exclusividade pela Amazon Agrosciences, que o batizou de GRANBLACK®.
Segundo o fabricante, o produto traz alta concentração de carbono orgânico, mix de aminoácidos e micronutrientes que fortalecem as plantas e permitem maior absorção dos nutrientes essenciais para a saúde.
Na fase de testes a campo, com áreas cultivadas de dois a quatro anos, foi percebido uma redução de até 15% em relação à queda de frutos nos pomares, diz a Amazon.
O CEO da empresa, Manuel Palma, destaca que o resultado pode ser observado a partir de dois anos de uso.
“Ao mesmo tempo que a produtividade é implementada, a longevidade aumenta nas plantas e incrementa qualidade ao fruto. Então, nós temos muitos benefícios e sem o uso dessa ferramenta as plantas continuariam definhando e mais tarde o produtor acabaria exterminando a planta”, comenta Palma.
O portfólio conta ainda com outro fertilizante, o ÍKONE®, que também utiliza a molécula NAC, mas é voltado para o combate do cancro cítrico, que prejudica a qualidade dos frutos e diminui a fotossíntese.
“Neste caso, o aglomerado bacteriano está na superfície das folhas. O Íkone foi desenvolvido para trabalhar diretamente desobstruindo esse aglomerado bacteriano na superfície das folhas, assim as folhas começam a fazer fotossíntese e a produtividade é incrementada”, afirma o representante da empresa.