O Brasil está no centro da produção agropecuária sustentável em todo o mundo e tem muito a contribuir para a oferta global de alimentos e energia, diante da preocupação global com a agroinflação, a segurança alimentar, os efeitos da pandemia de Covid-19 e a crise gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia no mercado global.
Essa é a principal conclusão da nota técnica que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou nesta quinta-feira (09), durante o seminário Agricultura, Pecuária, Energia e o Efeito Poupa-Florestas: Um Comparativo Internacional, que mostra o Brasil à frente de outros países agroexportadores em termos de crescimento da produtividade baseada em ciência e tecnologia e em produção por unidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
O evento, que contou a presença de autoridades e especialistas brasileiros e de organismos internacionais, analisou a posição do Brasil em diversos indicadores de sustentabilidade frente a sete grandes agroexportadores: Argentina, Canadá, China, França, Alemanha, Índia e Estados Unidos.
Dois indicadores tiveram destaque na apresentação de José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, coordenador de Estudos em Sustentabilidade Ambiental do Ipea e autor do estudo: o efeito poupa-florestas, que busca apontar a extensão de terras poupada devido às mudanças tecnológicas e técnicas na produção agropecuária, e a emissão de gases de efeito estufa por unidade de produção.
“O efeito poupa-florestas no Brasil é o maior entre os países comparados”, disse o pesquisador, ao ressaltar que esse indicador alcançou 43,2% do território nacional em 2020. “A área poupada é maior do que a efetivamente utilizada na agropecuária brasileira, enquanto Alemanha e França sempre pouparam pouco em seus territórios”, afirmou.
Depois do Brasil, o país com melhor desempenho nesse indicador é a Índia, com 34,5%. No entanto, o desempenho indiano esteve associado exclusivamente à produção agrícola. Já o brasileiro se deve aos ganhos de produtividade na agricultura e pecuária.
Por sua vez, a produção brasileira por unidade de emissão de GEE tem crescido continuamente, entre outros fatores, devido ao avanço da mudança tecnológica e aos investimentos em produção de baixo carbono.
A economia brasileira é a que apresentou a melhor taxa de crescimento do indicador baseado na produção agropecuária por emissões totais de gases estufa entre 1990 e 2020, de acordo com o estudo – 3,92% na pecuária e 3,93% na agricultura. Segundo Vieira Filho, os resultados evidenciam que um quilo de alimento produzido hoje gera menos emissões, e o Brasil lidera esta corrida mundial por uma produção mais sustentável.
Na abertura do seminário, o presidente do Ipea, Erik Figueiredo, lembrou que a imprensa divulgou recentemente que o Brasil seria questionado na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) por práticas na agricultura contrárias à preservação ambiental. “A informação era de que Alemanha e França apresentaram boas práticas. Nossa pesquisa mostra que as boas práticas estão ocorrendo no Brasil, que se tornou referência no mundo em equilíbrio ambiental e de produção de alimentos”, afirmou Figueiredo.
O diretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea, Nilo Luiz Saccaro Junior, disse que a nota técnica reuniu dados de qualidade e uma abordagem bastante clara e sintética, em duas versões, português e inglês. “Nas últimas cinco décadas, o Brasil conseguiu uma transformação produtiva acelerada, que muitos países não conseguiram fazer, baseada em tecnologia com manutenção da cobertura vegetal”, disse.
Vieira Filho também expôs dados comparativos sobre a matriz energética do Brasil, geração de eletricidade e produção de biocombustíveis. “O investimento em fontes de energia renovável está moldando as políticas em todo o mundo. O Brasil está à frente de seus principais competidores”, concluiu.