A Embrapa Florestas, em parceria com a Avon e coordenada pela Vitrine da Biodiversidade Brasileira (VBIO), iniciou um projeto com o objetivo de promover trabalho e renda para mulheres da agricultura familiar. O projeto envolve capacitação e incentivo a atividades que podem ser desenvolvidas com o pinhão, a semente da araucária.
Conforme divulgado pela Embrapa, o projeto abrange uma série de ações, que vão desde a produção e beneficiamento do pinhão, até a fabricação de produtos com alto valor de mercado e sua comercialização. Vale destacar que a iniciativa também contribuirá para a conservação dos remanescentes florestais com araucária.
O projeto terá duração de 36 meses e será implementado em oito municípios do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Com essa abrangência, o objetivo é capacitar até 400 mulheres em temas relacionados a:
- Conservação dos remanescentes de araucária;
- Implantação de pomares de araucárias que produzem pinhão precocemente; e
- Armazenamento e beneficiamento do pinhão para produtos de maior valor agregado.
Contudo, além de estimular a implantação de unidades de beneficiamento de pinhão, o projeto também oferece atividades como cursos de culinária com pinhão, controle de qualidade e orientação para comercialização dos produtos fabricados por meio de associações.
A pesquisadora Rossana Catie Bueno de Godoy, líder do projeto na Embrapa, explica que o mesmo é um passo importante para auxiliar na organização da cadeia produtiva do pinhão, que hoje é baseada no extrativismo.
“Além de orientar sobre as boas práticas de colheita do que já existe na natureza, ajudando na conservação da espécie, também vamos ensinar sobre a implantação de pomares de pinhão, com plantios para este fim”, afirma.
A pesquisadora comemora que um dos pontos importantes do projeto “é o empoderamento das agricultoras, que também serão incentivadas a se organizarem em associações e a beneficiar o pinhão, com a possibilidade de agregação de valor com novos produtos, como farinhas, snacks e mesmo diferentes receitas com a semente da araucária”.
Godoy explica que as opções de renda para mulheres na agricultura familiar são limitadas a atividades de baixa remuneração na própria propriedade rural, recebendo pouco pela venda da semente.
“O projeto ‘Mulheres e a cultura do Pinhão’ pretende oferecer alternativas para a geração de renda, permitindo ganhos financeiros maiores e, ao mesmo tempo, estimular o associativismo e fortalecer a liderança feminina, colaborando para o desenvolvimento das comunidades em que essas mulheres se inserem”, ressalta.
Para Luciana Machado dos Santos, gerente de assuntos regulatórios em Biodiversidade da Avon, o projeto Mulheres e a Cultura do pinhão está totalmente alinhado com a causa que a companhia defende.
“Desde a sua fundação, há mais de 130 anos, quando a população feminina sequer possuía o direito ao voto, a Avon já viabilizava oportunidades acessíveis para mulheres alcançarem a independência financeira por meio da venda por relacionamento. O empreendedorismo feminino faz parte da nossa cultura e essa parceria mostra que estamos no caminho certo para contribuir ainda mais com o empoderamento dessas mulheres na busca por melhores condições de vida e alcance de seus sonhos.”, afirma Luciana.
A parceria entre Embrapa e Avon foi viabilizada pela VBIO, plataforma de bioeconomia que auxilia organizações a captarem e destinarem recursos para projetos de valorização da biodiversidade brasileira, com foco no desenvolvimento de comunidades tradicionais e conservação do patrimônio natural brasileiro possibilitando, assim, a execução dessas iniciativas, a geração de impacto social, ambiental e econômico.
A VBIO também realiza a gestão financeira e técnica dos projetos, acompanhando os indicadores das atividades previstas e garantindo o alcance pleno dos resultados previstos com segurança e credibilidade para todos os parceiros envolvidos. Segundo Mariana Giozza, gestora de projetos da VBIO, enxergar o papel fundamental da biodiversidade na transformação de realidades e prosperidade da sociedade é a única forma de garantir a sua conservação no longo prazo.
“Com esse projeto, a biodiversidade entra para ser uma ferramenta que irá garantir a melhoria na qualidade de vida de mulheres agricultoras, a partir da geração de novas opções de renda e inclusão socioeconômica de um grupo que, por muito tempo, teve seu papel na sociedade subvalorizado. Protagonizar as mulheres agricultoras dentro dos seus núcleos familiares é proporcionar-lhes a oportunidade de serem independentes na tomada de decisões sobre suas vidas e de valorizar o conhecimento de gerações que elas detêm sobre o manejo dos recursos naturais, garantindo, também, a conservação da natureza.”
Pinhão e agricultura familiar
O pinhão, semente da araucária, é um alimento muito apreciado no Sul e Sudeste do Brasil. Sua coleta é feita de forma extrativista na Floresta com Araucária, ecossistema da Mata Atlântica, chamado cientificamente de Floresta Ombrófila Mista, encontrada nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e algumas áreas da região Sudeste.
O pinhão coletado é comercializado principalmente em beiras de estrada ou para atravessadores. Mesmo com baixo valor de venda para o pinhão in natura, essa é uma importante fonte de renda para a agricultura familiar da região.
O beneficiamento surge, então, como uma opção para a agregação de valor ao produto, aumentando a renda de pequenos produtores. Godoy destaca que, “quando processado e vendido congelado, o pinhão pode atingir preços maiores, em torno de R$ 20 a R$ 25 por quilo. Já na forma de farinha, o preço pode chegar a R$ 60,00/Kg”. O
projeto também visa contribuir para ampliar os mercados de venda para merenda escolar, roteiros turísticos e outros segmentos varejistas.
Já considerando a possibilidade de aumento na demanda por pinhão para beneficiamento e redução da pressão sobre as florestas remanescentes, outra tecnologia desenvolvida pela Embrapa Florestas e parceiros também será levada às produtoras: a técnica de enxertia de araucária, que possibilita a implementação de pomares de araucária com produção precoce de pinhão.
Esse tipo de enxerto possibilita que a araucária comece a produzir pinhão na metade do tempo em que as árvores encontradas na natureza iniciam a produção: o tempo para início da formação do pinhão reduz-se de 12 a 15 anos para 6 a 8 anos. “Isso resulta em aumento da oferta do produto”, explica o pesquisador Ivar Wendling, que desenvolveu a técnica em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“As araucárias com produção precoce de pinhão destacam-se ainda pelo material genético superior com matrizes de diferentes épocas de produção durante o ano, tipos diferentes de pinhão e árvores com menor porte, entre dois e seis metros de altura, o que facilita a coleta das sementes”, explica o pesquisador.
A estimativa é instalar até 80 pomares de pinhão precoce, sendo em média 10 pomares em cada município elencado no projeto. Além da questão econômica, a valorização do pinhão como ingrediente para produtos alimentícios pode contribuir para a conservação da araucária por meio do seu uso sustentável.