CASO AGROGALAXY

Especialista afirma: recuperação judicial acende alerta, mas não indica crise

Mesmo com casos pontuais de recuperação judicial, consultor diz que o agro não enfrenta uma crise generalizada

Reprodução/Canal Rural
Reprodução/Canal Rural

A recuperação judicial da Agrogalaxy, uma das maiores distribuidoras de insumos agrícolas do Brasil, levantou uma série de preocupações sobre o futuro do setor. O pedido de recuperação e a renúncia de executivos indicam dificuldades financeiras impulsionadas por margens de lucro apertadas e um endividamento elevado. Além disso, outra empresa do setor, a Portal Agro, também seguiu o mesmo caminho recentemente, evidenciando que o problema pode ser mais amplo do que casos isolados.

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Apesar do crescente número de recuperações judiciais no setor de insumos agrícolas, o agronegócio brasileiro mantém sua estrutura sólida, de acordo com o especialista em mercado de capitais, Octaciano Neto.

“São entre 250 a 270 recuperações judiciais no agro, de um total de 1.600 na economia como um todo. Isso não representa uma crise estrutural do agronegócio”, afirma. Para ele, o setor passa por um momento de dificuldade, mas continua resiliente, sem crise estrutural.

Recuperação judicial: boa ou ruim para o agro?

Quando questionado se a recuperação judicial é algo positivo ou negativo para o agro, Octaciano Neto foi categórico: “Recuperação judicial é péssimo, muito ruim. A melhor coisa que o empresário com dificuldades pode fazer é sentar com seus credores, negociar, vender ativos e honrar seus compromissos.” Na visão do especialista, a recuperação judicial encarece o crédito e aumenta a insegurança jurídica, principalmente porque mais da metade do crédito no agro atualmente é privado.

Apesar disso, ele reforça que, embora o barulho em torno das recuperações judiciais seja grande, o impacto real é pequeno. “Tudo isso é pouquíssimo relevante para o agro. O barulho é muito maior do que a realidade”.

Desafios para o mercado financeiro e produtores rurais

Sobre a crise financeira da Agrogalaxy, que acumula prejuízos desde 2016, Neto enfatiza a importância de os produtores manterem o diálogo com as empresas. “A Agrogalaxy vai se esforçar para honrar seus compromissos, mas os produtores devem se certificar de que os insumos serão entregues conforme o combinado”, afirma.

Outro ponto relevante são os impactos sobre os Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), que investem em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) emitidos pela Agrogalaxy. A crise da empresa já provocou a suspensão de dividendos em alguns fundos, gerando incertezas sobre a segurança dos investimentos no setor.

Na avaliação de Neto, qualquer dificuldade enfrentada pelo agronegócio pode ressoar de forma mais ampla no mercado. “Com cerca de 600 mil investidores em Fiagros, qualquer problema no agro repercute de forma significativa no mercado financeiro. A repercussão foi maior do que o real impacto da dívida”.

Apesar disso, ele reforça que os desafios no setor de insumos não desestabilizam a safra brasileira. “Mesmo que alguns produtores enfrentem dificuldades com revendas em recuperação judicial, isso não afeta a agricultura como um todo. A recomendação é sempre manter o diálogo com as empresas e buscar alternativas, se necessário”, conclui.