Em geral, os livros didáticos usados no Brasil apresentam bem mais conteúdos negativos do que positivos em relação ao agronegócio. É o que constata recente publicação que se propôs a avaliar como o setor é abordado na sala de aula.
Organizado pelo projeto De Olho no Material Escolar e com análise da equipe da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP), o relatório “O retrato do agronegócio na escola” mapeou 746 citações negativas ao setor produtivo contra 472 menções positivas. Ou seja, diferença de quase 60%.
Para se chegar a essa diferença, a equipe do projeto teve como amostragem 94 livros didáticos, de dez editoras diferentes. Ao todo, foram mais de nove mil páginas analisadas em mais de três mil horas de trabalho — que contou na linha de frente com cinco analistas de tiragem de conteúdo e sete especialistas em agronegócio.
Fora a discrepância entre citações negativas e positivas, o material destaca que, sobre o agro, os livros didáticos avaliados têm os seguintes números:
- 345
Unidades de registro (URs) ligadas ao tema agronegócio;
- 110
URs com viés político-ideológico;
- 45
Registros com informações desatualizadas sobre o setor;
- 153
Unidades com informações imprecisas;
- 105
URs com informações ausentes a ponto de prejudicar a compreensão para o aluno.
Agronegócio: sentimentalização negativa no material escolar
Além disso, o projeto lista o que define como “sentimentalização” dos livros didáticos em relação ao agronegócio. Nesse sentido, apenas sete unidades de registro foram classificadas como “fortemente positivas”. Por outro lado, 37 URs aparecem como “fortemente negativas”.
A divisão “Neutros” ocupa a primeira posição no ranking da sentimentalização, com 126 registros. “Negativo”, contudo, aparece na sequência, com 123. Por fim, a lista se completa com 52 unidades de registo positivas para o agro.
Exemplos de informações questionáveis sobre o agro em livros didáticos
No material, os responsáveis pelo De Olho no Material Escolar e pela FIA-USP divulgam exemplos de informações questionáveis sobre o agro em livros didáticos. Em determinado conteúdo exposto, até uma charge joga contra o agro. Afinal, apresenta-se como resposta correta que o “uso de agrotóxicos [sic] nas plantações” é o motivo para um homem alegar ao delegado que sua mulher estaria tentando matá-lo, pois ela havia lhe servido itens como pimentão, alface, tomate, morango e uva.
“Os materiais teriam como propósito incentivar o espírito científico dos leitores, formar opiniões independentes, atitudes e valores compatíveis com os saberes das ciências”
“Análises realizadas mostraram a ocorrência de imperfeições pedagógicas, bem como vieses de natureza política ou ideológica. Estes não deveriam estar presentes nos textos didáticos, uma vez que os materiais teriam como propósito incentivar o espírito científico dos leitores, formar opiniões independentes, atitudes e valores compatíveis com os saberes das ciências”, afirmam os responsáveis pelo projeto.
Como conclusões, a equipe à frente do relatório “O retrato do agronegócio na escola” pontua que falta valorização do papel do produtor rural e da agroindústria na economia do país. Por fim, destaca-se a ausência de entendimento sobre a conexão do campo com a cidade.
“Existe a possibilidade de se evidenciar mais no material didático a conexão campo-cidade, preparando o jovem para visão mais sistêmica da cadeia da agroindústria. Isso deve ser considerado até numa dimensão de sucessão no setor, visto o exemplo de outros países, que passam por dificuldades na formação.”
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