Com a restrição das exportações de fertilizantes pela Rússia e Ucrânia, os preços desses produtos têm se mantido em patamares elevados. Para fazer frente ao alto custo, pesquisadores defenderam soluções regionais para manejo da fertilidade do solo.
Uma dessas alternativas é o uso de remineralizadores para suprir parte dos nutrientes necessários à produção agrícola, diminuindo os custos com a importação de adubos sintéticos.
Produto da mineração, os remineralizadores são minerais primários que aumentam a fertilidade, a retenção de água e a atividade biológica do solo. Seu uso melhora a resposta da terra aos fertilizantes e ao manejo agrícola em países de clima tropical.
Hoje, essa tecnologia é adotada em 5 milhões de hectares no país, o que representa 7% da área de grãos, segundo levantamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“Se a gente for pensar a quantidade de fertilizantes que importamos, isso já impacta muito positivamente os nossos custos de produção e o impacto ambiental, tendo em vista que são produtos naturais que não têm impacto negativo”, frisou o pesquisador Sebastião da Silva Neto, que chefia Embrapa Cerrados.
“Associando os remineralizadores aos bioinsumos (à base de plantas e microorganismos), o Brasil está inaugurando a agricultura baseada em processos biológicos, muito mais eficiente do ponto de vista econômico”, acrescentou.
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Éder Martins estima que a demanda da agricultura por esses minérios será de 70 milhões de toneladas ao ano. Hoje, o país produz 250 milhões de toneladas anuais.
“A mineração no Brasil tem potencial para gerar esses produtos” disse ao se referir às pedreiras produtoras de brita para a construção civil. No entanto, o representante da Abrefen, que reúne a cadeia produtiva dos remineralizadores, Frederico Bernardez, informou que hoje a demanda por remineralizadores é maior do que a capacidade de produção. Ele deixou claro que a ideia não é substituir os fertilizantes químicos por produtos alternativos, mas fazer uma transição por opções mais competitivas.
“Os produtores rurais não vão deixar de usar produtos convencionais. É uma transição, e nessa transição existe uma associação de produtos convencionais com produtos alternativos. É um processo ”, disse.
Bernardez ressaltou que os remineralizadores podem custar até R$ 400, já os insumos convencionais alcançam o patamar de R$ 7 mil.
Crise de commodities
A adoção dos remineralizadores poderia aliviar a dependência do Brasil pelos fertilizantes estrangeiros, enfatizou o pesquisador da Embrapa, Éder Martins. Hoje o país importa 96% do potássio usado como adubo e 85% do nitrogênio e do ferro.
“Existem previsões de que vamos ter problemas com essas fontes ainda no século XXI em relação à disponibilidade no mundo. Já há uma previsão para 2060, uma crise ligada ao potássio, e 2080, uma crise ligada ao fósforo”, sustentou Martins.
Em tempos de crise e escassez, o Brasil não poderá ficar refém do mercado internacional dos fertilizantes, defendeu a especialista em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural da Universidade de Brasília (UnB) Suzi Huff Theodoro.
“Apesar de ser o quarto maior usuário de insumos químicos, o Brasil não participa da formação de preços, o que nos remete a uma dependência”, salientou. A pesquisadora reforçou que o uso desses minerais garante safras mais seguras e produtos ricos em nutrientes, se comparado ao uso de fertilizantes químicos.
Déficit nutricional
Para o presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (Gaas), Rogério Vian, a dependência do potássio como única fonte mineral na produção agrícola diminuiu o valor nutricional dos alimentos ao longo dos anos, o que ocasionou uma crise de saúde pública.
“A gente está tendo de suplementar, porque não estamos consumindo mais alimentos com nutrientes que precisamos, então temos problemas com depressão e outras doenças relacionadas ao déficit nutricional”, sustentou.
Ele observou ainda a necessidade de informar melhor sobre os remineralizantes. “Se a gente não levar isso para dentro das universidades, não colocar essa matéria no currículo escolar, os alunos saem da agronomia sem saber nada disso. Como a gente vai mudar uma realidade, se o agrónomo não sabe que isso existe?”, questionou.