Para muitas culturas agrícolas, fim de ano é período de entressafra e costuma ocorrer redução do emprego no setor. Mas desta vez está difícil considerar comum o que aconteceu em 2008. A estimativa do governo é que 600 mil postos de trabalho foram fechados no último mês ? o dobro da média histórica do período.
Outro levantamento parcial mostra que 513 mil trabalhadores pediram seguro desemprego em dezembro, quase 5% a mais do que no final de 2007. A tendência já começou em novembro, quando na agropecuária, 50,5 mil trabalhadores foram dispensados.
O desaquecimento no emprego tem uma explicação principal: a falta de crédito causada pela crise financeira. Com recursos escassos, países importaram menos e, consequentemente, o Brasil reduziu as exportações. Além disso, as agroindústrias precisaram se adequar ao novo cenário. Faltou dinheiro para investir, plantar, colher, moer, abater e contratar.
? O agronegócio está sentindo muito a falta de crédito. Os frigoríficos, o pessoal que cria aves, boi e suínos, a agroindústria e a parte de esmagamento de óleos estão se ressentindo ? diz o presidente do departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benedito da Silva.
De acordo com o Sindicato da Indústria de Alimentos de Campo Grande (MS), frigoríficos deram férias coletivas a pelo menos seis mil empregados. Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o movimento é normal.
? Alguns frigoríficos reduziram escala de abate, deram férias coletivas. Tem havido até pontualmente alguma demissão, mas nada significativo. Está perfeitamente dentro do que é normal no setor no período da entressafra, que é de baixa atividade ? afirma Roberto Gianetti da Fonseca.
Nas indústrias de trigo a situação também se agravou no fim de 2008. Faltou crédito para importar matéria-prima. O principal moinho do país precisou dar férias coletivas pela primeira vez em 42 anos.
? Isso é um fator muito complicador para o setor de alimentos porque não se imagina que vá haver queda de demanda, mas infelizmente houve e demos 20 dias de férias coletivas. Acredito que alguns outros moinhos também o fizeram ? contou o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.
Na cadeia produtiva do leite, o desemprego não está na indústria, mas sim no campo.
? Quem está sendo prejudicado são os fornecedores de matéria-prima, ou seja, o produtor de leite, que não está recebendo. Em algumas regiões de São Paulo e Goiás chega a haver dois meses de atraso. Isso causa um problema muito sério principalmente porque os produtores acabam abatendo vacas e desempregando, e o funcionário rural não tem habilitação para trabalhar na cidade ? explica o presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez.
O impacto foi ainda pior no setor sucroalcooleiro, que já estava em crise em função dos baixos preços do açúcar e álcool.
? Faltou dinheiro para todo mundo. Alguns grupos pararam de pagar fornecedores, outros já pediram concordata e o mercado está muito tumultuado. É difícil sair vivo no meio desse tiroteio, e é o produtor quem está tomando mais tiro do que todo mundo. Aqui na região já tivemos que entregar quase dois mil hectares para usina porque não conseguimos saldar os prejuízos ? conta o presidente da Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Campo Florido (MG), Silvio de Castro Junior.