Segundo o responsável pela pesquisa, Francisco Aragão, os testes já estão em andamento para a geração de um produto comercial, que possa ser cultivado e vendido em supermercados.
– Os primeiros ensaios a campo foram concluídos. A alface transgênica, cultivada em condições comerciais, manteve os níveis de ácido fólico obtidos em laboratório. O desempenho agronômico foi idêntico ao de plantas convencionais. Agora trabalhamos nos testes com animais – diz o pesquisador.
A Embrapa introduziu na alface um gene da Arabidopsis thaliana, planta modelo usada em cruzamentos genéticos. A função desse gene é elevar a produção natural de ácido fólico na hortaliça. Presente em vegetais verde-escuros, como brócolis e espinafre, a substância (uma forma de vitamina B) colabora com os processos de multiplicação celular, como o desenvolvimento fetal.
A suplementação com ácido fólico é recomendada dois meses antes da concepção até o fim da gestação. A prática pode prevenir 50% dos casos de má formação, que, no Brasil, acomete 1,6 bebês em cada mil nascidos vivos. A anencefalia, acúmulo de líquido amniótico no cérebro, um dos tipos mais graves, ocorre em 0,6 bebês por mil nascidos vivos.
Para reduzir essa triste estatística, o governo impôs a adição compulsória de ácido fólico à farinha de trigo. O problema é que, na preparação de massas e pães, 60% da vitamina é degradada pelo calor. O mesmo ocorre no cozimento de vegetais ricos em ácido fólico.
Aragão acredita que a alface transgênica possa facilitar o acesso da população ao nutriente, por ser a folha mais consumida no mundo e ser ingerida crua, de modo que seu preparo não degrada a vitamina. Para ele, a incorporação da alface na dieta poderia reduzir o custo de distribuição de ácido fólico na rede pública de saúde. Além disso, protegeria bebês de mães que, por ignorarem a gravidez, não deram início à suplementação.