Indústrias têxteis estão reduzindo a atividade em virtude das altas do preço do algodão e da dificuldade de repasse do custo mais alto da matéria-prima na cadeia, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. Segundo ele, este é um dos problemas “mais graves” que o setor enfrenta neste momento no Brasil e no mundo.
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“Temos notícias de interrupção de produção em fábricas na Índia e outros países na Ásia. No Brasil, já estamos sentindo uma profunda dificuldade de as empresas conseguirem pagar o preço desse algodão e chegar na ponta repassando esses custos aumentados”, disse Pimentel.
Segundo ele, a alta do algodão, que chega a 37% no ano, não foi transferida integralmente para o consumidor final, que tem seu orçamento “espremido” pelo quadro de inflação de alimentos e energia. “As empresas estão tentando ajustar a sua produção à capacidade de repassar isso ao mercado e preservar a sua saúde financeira para não entrar numa espiral negativa.”
De acordo com Pimentel, há empresas brasileiras que interromperam ou reduziram a produção ou vão dar férias coletivas em um período em que tradicionalmente isso não ocorre em virtude do quadro de venda travada e aumento de custos. Pimentel não estimou qual é a parcela da indústria afetada, mas disse que o impacto é maior em fiações e tecelagens de tecidos mais pesados, que utilizam mais algodão na composição.
indicador do algodão em pluma com pagamento em oito dias voltou a atingir máxima nominal da série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) iniciada em 1996 na última quarta-feira (4), batendo em R$ 7,6459/lb.
Segundo levantamento do Cepea, a elevação dos preços externos e valorização do dólar deixaram a cotação da pluma no país apenas 1,5% acima da paridade de exportação na segunda-feira (2) – como comparação, na média de abril, a vantagem do preço interno sobre os de exportação foi de 11,7%. “Compradores com necessidades imediatas e/ou estoque limitado precisaram ceder e pagar os maiores preços pedidos por vendedores”, disseram os pesquisadores.
Os dados mais recentes de criação de vagas do Caged, divulgados na semana passada, já refletem em parte a dificuldade da indústria, segundo Pimentel. “Nos últimos 12 meses até março, geramos 36 mil a 37 mil postos formais de trabalho, porém em março 2022 perdemos 500 postos, e essa perda foi em têxtil, não na confecção”, disse.
O Brasil tem no algodão a sua principal matéria-prima para a produção de calças jeans, cama, mesa e banho e outros produtos de consumo. Conforme o presidente da Abit, hoje importar algodão não seria viável. “Algodão dos EUA não vai chegar mais barato do que o do Brasil. O algodão está caro no mundo inteiro”, disse.
A entrada da safra 2021/22 do Brasil nos próximos meses pode representar um alento do lado da oferta, mas Pimentel reforçou que o preço dependerá da evolução da economia mundial e seus efeitos nos futuros e câmbio.