Algodão volta a ser plantado na Paraíba depois de décadas

Em 1980, lavouras foram praticamente dizimadas pelo bicudo, praga da lavouraSão apenas 200 hectares nesta safra. Se comparada com os mais de 800 mil hectares em todo o Brasil, a área plantada com algodão na Paraíba é quase nada, mas tem um significado importante. Campina Grande, pólo da cotonicultura paraibana foi, na década de 1930, o segundo maior centro mundial de comercialização do algodão, perdendo apenas para Liverpool, na Inglaterra. Porém, nos anos 1980, as lavouras foram praticamente dizimadas pelo bicudo - uma praga que continua sendo uma das maiores dores de

Sediada em Campina Grande, a Embrapa Algodão, que estará presente no 9º Congresso Brasileiro do Algodão, entre os dias 3 e 6 de setembro, em Brasília, conseguiu devolver o algodão ao semiárido da Paraíba.

As pesquisas começaram ainda na década de 1980, com a coleta de amostras de algodão herbáceo em diversos estados. O pesquisador da Embrapa Algodão, Luiz Paulo de Carvalho, lembra que a variedade arbórea plantada na Paraíba favorecia a proliferação do bicudo:

– Por isso nossa opção por espécies herbáceas, que são plantadas todos os anos. O algodão arbóreo é semiperene, produzindo até cinco anos seguidos. Assim, o bicudo tinha alimentação praticamente o ano todo e era difícil combatê-lo.

Na análise das amostras coletadas, os pesquisadores verificaram fibras naturalmente coloridas. Inicialmente, a Embrapa Algodão desenvolveu uma variedade semiperene, com produção em até três anos.

– A empolgação foi grande por parte dos produtores e chegamos a ter 3 mil hectares de algodão”, lembra o pesquisador. Mas a incidência do inseto e o mercado restrito fizeram os agricultores paraibanos recuarem mais uma vez.

Foram estudadas 35 novas linhagens de algodão nos municípios de Patos e Monteiro. Como resultado, Campina Grande e regiões vizinhas são, hoje, centros de produção algodoeira reconhecidos no país.

A pesquisa de melhoramento genético de sementes resultou no lançamento em 2000 de uma variedade na cor creme, a BRS 200. Em 2003, veio a BRS Verde e, em 2005, a BRS Rubi e a BRS Safira, ambas de nuances marrons.

– Orgânica ou não, a produção de algodão colorido já se torna vantajosa ao dispensar o tingimento, uma das etapas mais problemáticas do processo.
O pesquisador lembra que o algodão, seja colorido ou branco, tem mercado garantido. Mas para que a produção chegue ao consumidor, é preciso incentivar a organização da produção, buscar apoio do governo e facilitar o acesso às tecnologias por parte dos produtores rurais.

– Mostramos que era preciso ter uma organização para garantir a colocação do produto no mercado.

Assim, uma cooperativa de 31 associados em Campina Grande transforma as plumas de algodão colorido em peças de vestuário e para casa. Com as sobras de tecidos, fazem bonecos e bichinhos de pano para crianças.

A cooperativa já exporta para a Europa brinquedos e almofadas produzidas com o algodão naturalmente colorido. Carvalho lembra que a Embrapa Algodão busca também interessados pela pluma colorida em Santa Catarina e no Paraná:

– Tanto produtores rurais que queiram apostar na variedade como empresas que queiram processar a pluma

Mas e o bicudo? Segundo o pesquisador, a convivência com bicudo não é mais um problema porque o besouro poderá ser eliminado com o arranquio e o espaçamento do tempo de plantio de uma safra à outra, que dever ser de, no mínimo, três anos.