Algodão segue firme no mercado interno mesmo com baixa qualidade

Chuvas podem causar perdas significativas na Bahia e cotonicultores estão retraídos, se dedicando ao manejo

Fonte: Pixabay

As cotações internas do algodão em pluma vêm oscilando, mas, no balanço do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), as altas prevaleceram. O preço doméstico ora sobe por conta da posição firme de vendedores, ora recua pressionado pela baixa qualidade da pluma disponível no spot. 

Nesta terça, dia 24, o Indicador Cepea/Esalq com pagamento em 8 dias, referente à pluma 41-4, posta em São Paulo, fechou a R$ 2,6959/lp, ligeira alta de 0,24% em relação à terça anterior. 

Pesquisadores do Cepea indicam que as negociações estão em ritmo lento no mercado spot e também para entrega futura. Cotonicultores estão retraídos, com as atenções voltadas ao manejo da cultura e à produtividade da safra 2015/2016. Do lado comprador, apesar de as indústrias se queixarem quanto à qualidade da pluma, pequenos volumes têm sido adquiridos.

Produtores consultados pelo Centro afirmam que a falta de chuva em algumas regiões pode resultar em perdas significativas, principalmente na Bahia. O presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Celestino Zanella, ressaltou que a colheita foi antecipada em cerca de 30 dias por causa do baixo volume de chuvas na região este ano. “Começamos em algumas regiões com produtividade de 180 a 220 arrobas por hectare, porém, esse algodão foi plantado em uma condição boa, com umidade no mês de dezembro e, quando começou a chover em janeiro, ele aproveitou esse período para crescer bem.”

Segundo Zanella, quando parou de chover no fim de janeiro na região, as raízes se aprofundaram no solo, o que permitiu um desenvolvimento vegetativo adequado. Já o algodão plantado no início de janeiro foi prejudicado tanto pelo excesso de chuvas logo após o plantio quanto pela estiagem nos meses subsequentes. Essas lavouras devem render de 70 a 80 arrobas por hectare. “Talvez em algumas nem valha a pena colher, então vamos ter de destruir esse algodão”, apontou Zanella. Ele avaliou que, se o oeste baiano tivesse recebido 50 mm de chuva em março, 50 mm em abril e 50 mm em maio, seria possível bater recordes de produtividade. “Algumas pequenas variações fazem a diferença no setor agrícola”, argumentou.

O presidente da Abapa não vê, entretanto, chance de redução expressiva de área na próxima safra em virtude dos problemas enfrentados no ciclo 2015/2016. “Acredito que, quanto à área com algodão, salvo um problema sério de financiamento, vamos mantê-la e talvez até ampliar um pouquinho”, assinalou. “Alguns proprietários, por questões financeiras, vão passar para a soja ou para o milho, que têm um custo menor. Mas os que conseguirem crédito, conseguirem fazer o seu planejamento financeiro, devem permanecer na atividade”, concluiu.

Crédito

Zanella avaliou que a disponibilidade de pré-custeio este ano, diferentemente do que ocorreu no ano passado, tem permitido aos produtores planejar a próxima safra 2016/2017, que se inicia em julho, com maior tranquilidade. “Ao contrário do ano passado, tivemos uma parte de pré-custeio e isso está sinalizando que temos uma possibilidade de termos um custeio normal”, assinalou. “Passada essa tempestade política em Brasília, que é uma coisa à parte, vai existir uma normalização. Aí acredito que os bancos vão começar a retornar, os produtores vão fazer um balanço, e tenho certeza que seremos mais eficientes nos próximos anos, nos preocupando com mais qualidade nas nossas fazendas.”

Ele chamou a atenção, contudo, para alternativas de redução de custo de produção em um cenário negativo da economia brasileira. “Se os produtores, no conjunto, fizerem um trabalho de monitoramento, um trabalho preventivo de pragas e doenças, nós vamos reduzir custo sem deixar de aplicar dinheiro na fertilidade, na semente, nas máquinas etc”, ressaltou. “Cada aplicação contra o bicudo é cerca de US$ 8 a US$ 9 só de produto, mais máquinas e equipamentos, isso fica pelo menos US$ 10 por hectare (mais caro).”

Sobre os desafios do Matopiba, na avaliação de Zanella, o principal é a irrigação. “Se conseguirmos aumentar a área irrigada em 500 mil hectares, ampliamos em 50% a produção da cultura anterior, em sistema de rotação de culturas, e temos uma grande possibilidade de, em 10 anos, fazermos 0,4% de safra a mais por ano.”