Árvores que produziram caqui por mais de 20 anos perderam as folhas e estão secando nos galhos. Lesões escuras revelam a presença da antracnose. Os frutos que amadurecem estão manchados pela doença e são úteis apenas para os pássaros. Há três anos, os 220 produtores de caqui de Campina Grande do Sul lutam contra um novo fungo causador de antracnose, mais agressivo do que os já conhecidos.
? Nós tentamos várias alternativas dentro da agroecologia, da agricultura orgânica, depois tentamos alternativas químicas também, alguns produtores convencionais usaram produtos químicos e não conseguiram segurar a produção. Não teve efeito significativo para controlar o fungo da antracnose ? diz Ricardo Lubaszewki, agrônomo da Emater de Campina Grande do Sul.
Cada planta demora mais de 10 anos para dar frutos em escala comercial. A produtora Marlene da Silva Berleis conta que colhia mil caixas de caqui por safra. Este ano, colheu 80. Ela precisou arrumar um emprego fora da propriedade.
? É a nossa renda. A gente, com o que ganhava, passava o ano. Estou muito preocupada ? disse a produtora Marlene da Silva Berleis.
Campina Grande do Sul colhia 1,3 mil toneladas de caqui por ano. Em 220 hectares, este ano a produção não chegou a 100 toneladas.
Praticamente sem caqui nos pomares, o município teve problemas para realizar a Kakifest, um evento tradicional que tanto divulga a cidade como reforça a economia local durante 10 dias. Porém, como a fruta representa 80% da renda agrícola de Campina Grande do Sul, os organizadores decidiram transformar a 32º feira em um pólo de discussões sobre a antracnose.
Um seminário reuniu produtores em busca de respostas. O especialista em fruticultura Rui Pereira Leite, do Iapar, aconselhou atenção no manejo do pomar, já que a pesquisa ainda não tem uma solução para combater a nova antracnose do caqui.
? Entre as ações, estão a poda das plantas doentes, a eliminação total da planta quando ela estiver muito afetada, um bom tratamento de inverno, com calda bordalesa e as pulverizações no período de verão. Seriam ações para adotarem de imediato ? explica Leite.
No encontro, os produtores decidiram pedir ajuda formal ao poder público. A presidente da Cooperativa de Produtores de Campina Grande do Sul (CPCAMP), Elizabeth Costa, acrescenta que é preciso adotar medidas paralelas de emergência.
? Uma das ações seria pedir urgência na parte de pesquisas para solucionar nosso problema, mas isso aí vai ser demorado porque as famílias precisam sobreviver no campo. A outra seria uma medida de indenização governamental, e a outra, nós já estamos, junto com a Emater e Secretaria de Agricultura vendo a possibilidade de introduzir culturas mais rápidas para ajudar as famílias, para realmente fixar essas famílias no campo ? disse Elizabeth.