Quando terminou de colher esta safra, o agricultor Carlos Pulcinelli comemorou. Ele diz que foi a melhor desde que planta soja, com mais de seis mil sacas colhidas em Cornélio Procópio, no norte do Paraná. Porém, quando comparou a rentabilidade com a última safra percebeu que perdeu R$ 13 por saca. No verão passado, ele vendeu soja a R$ 43. Nesta semana, conseguiu R$ 30 pela saca, um prejuízo de R$80 mil com a cultura. O plano de trocar o antigo pulverizador por um equipamento novo e as reformas que faria na propriedade vão ter que esperar.
? Na minha matemática, ainda é assim: eu tenho “tanto” pra vender, vendo por “tanto”, recebo “tanto” e posso gastar “tanto”. E esse “tanto” que eu posso gastar não dá. Não tenho. Porque eu vejo o que eu vou receber de soja hoje, eu não pago o pulverizador, que é uma máquina pequena perto de uma colheitadeira, dessas máquinas modernas. Outra coisa que me preocupa, é que eu não consigo modernizar, a tecnologia está muito cara ? disse Pulcinelli.
Entrar de carro na propriedade do agricultor só em dias assim, de muito sol. A poeira nem chega a ser um problema perto do que acontece em dias de chuva. Ninguém entra nem sai por causa da lama que se forma nos desníveis do caminho.
Só de soja o Paraná plantou mais de 4, 5 milhões de hectares. A secretaria de Agricultura ainda está finalizando os números, mas espera confirmar a colheita recorde de 13,5 milhões de toneladas. Mas, para muitos produtores, de que adianta tanta produtividade, se a renda que sobra não garante o investimento em necessidades básicas, como uma simples melhoria no acesso à propriedade?
Este economista do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura de Cornélio Procópio explica que a região vive uma situação frustrante. Na safra passada a produtividade média da soja foi de 2,3 mil quilos por hectare, por conta da estiagem, mas o produtor vendeu a saca pelo preço médio de R$ 42,90.
Atualmente, com uma produtividade média de três mil quilos por hectare, 25% maior, o agricultor está vendo o preço despencar quase 30%. A cotação chegou a R$ 30,20 a saca, para um custo de produção de R$ 34,94. Conclusão: ele está perdendo mais de 5% por saca, nesta safra. Perdeu também a confiança no mercado.
? Pelo nosso levantamento, poucos produtores fizeram contratos futuros em nossa região. Eles começaram aí por volta de R$ 38 ou R$ 39. Nós temos estudos de que apenas 5% dos contratos futuros foram feitos. Muitos produtores não aproveitaram essas condições de mercado. Hoje grande parte está para ser vendida ainda e eles estão se perguntando o que fazer ? disse o economista do Deral de Cornélio Procópio, Santo P. Filho.
Muitos especialistas dizem que o produtor deve voltar a se acostumar com o preço histórico da soja, já que as explosões de cotação não devem acontecer de novo tão cedo. Houve períodos, como em abril de 2004, em que a saca do grão foi vendida em Cornélio Procópio ao preço recorde de R$ 50,08. Porém, com uma produção mundial prevista para fechar em 246 milhões de toneladas, esse valor pode ser considerado um sonho distante.