A eleição desta terça também deve marcar uma guinada, uma mudança de foco no comando da maior potência econômica e militar do planeta, depois de oito turbulentos anos da administração do republicano George W. Bush.
O atual presidente alcançou os píncaros da popularidade em 2001, graças à dura resposta aos atentados terroristas de 11 de setembro. A interminável guerra no Iraque e o pífio desempenho na área econômica ? agravado pela recente crise das hipotecas ? cobraram seu preço, porém. Resultado: Bush chega ao final do seu governo ? a posse do sucessor está marcada para o dia 20 de janeiro de 2009 ? como um dos presidentes mais impopulares da história do país.
Obama lidera todas as pesquisas nacionais, com uma vantagem sobre o adversário, o republicano John McCain que varia de cinco a 11 pontos percentuais. Fosse em outro país, no Brasil, por exemplo, o senador já poderia começar a montar seu secretariado. No entanto, o peculiar sistema eleitoral americano, quase tão exótico para os estrangeiros como, digamos, as regras do beisebol, pode reservar surpresas de última hora ? ainda que altamente improváveis.
Para começar, as eleições americanas são indiretas, e quem define o nome do ocupante do Salão Oval é um colégio eleitoral. O que vale mesmo, portanto, é o número de delegados conquistados pelo candidato em cada Estado ? e, em 48 deles mais o Distrito de Colúmbia (onde fica a capital, Washington), o vencedor da disputa local leva todo o butim, ou seja, todos os representantes estaduais. Para dar um exemplo: mesmo se Obama derrotar McCain por apenas um voto popular em New Jersey, o democrata leva todos os 15 delegados do Estado.
Campanha se restringe a um punhado de Estados
Essas regras estranhas, que datam da fundação do país, no século 18, criam algumas distorções. É possível, por exemplo, que um candidato ganhe no voto popular e ainda assim perca a Casa Branca. Foi o que aconteceu com Al Gore em 2000.
Além disso, a campanha acaba se restringindo a um punhado de Estados considerados indefinidos (os chamados swing states) ou passíveis de virar a casaca. Nos demais ? incluindo os três mais populosos, Califórnia, Texas e Nova York ?, profundamente republicanos ou democratas, os candidatos sequer dão as caras.
O esforço simplesmente não vale a pena: Obama sabe que jamais vencerá McCain no Texas, e republicano está convicto de que não tem chances em Nova York ou na Califórnia. Seria como se, no Brasil, os candidatos ignorassem São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e a eleição do presidente dependesse de Estados como Ceará, Goiás e Paraná.