? Me chamaram de louco. Nem minha família acreditou que esse negócio podia dar certo ? conta João Tavares, que há seis anos começou a investir no fruto de alta qualidade.
A premiação é resultado da persistência de produtores brasileiros, investimento em tecnologia e apoio do governo na promoção do fruto nacional no exterior.
? O Brasil não existia no mercado de cacau fino. Em dois anos, conseguimos uma repercussão que esperávamos conquistar em cinco anos ? afirma Henrique Almeida, diretor-presidente da Associação dos Produtores de Cacau (APC).
De acordo com o presidente da APC, atualmente o mundo produz 150 mil toneladas por ano do produto e há demanda para 400 mil. Almeida diz que o consumo de chocolate fino cresce na China 24% ao ano e no Brasil, 12%.
? Temos muito espaço para crescer e o preço é remunerador. O cacau fino vale o dobro e, em alguns casos, até o triplo do valor do convencional, cotado hoje a US$ 2,7 mil, a tonelada ? explica.
A inserção do Brasil no mercado de cacau fino começou a partir da tese de pós-doutorado do pesquisador da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) Almir Martins. O trabalho, desenvolvido na cidade francesa de Montplellier, abordou a demanda europeia pelo fruto de alta qualidade.
? Durante minha estada na França, trouxe uma série de amostras de amêndoas brasileiras para indústrias locais fazerem as correções necessárias para considerá-las de alta qualidade ? conta o pesquisador.
Após a conclusão da tese, em 2007, a Ceplac convidou produtores a conhecer o mercado europeu de cacau fino. Em 2009, o Ministério da Agricultura firmou o primeiro convênio com a APC para apoiar a ida de produtores nacionais ao Salão do Chocolate de Paris. Em 2010, dez produtores da Bahia, Pará e Espírito Santo mostraram seus produtos no estande brasileiro. Quatro deles, incluindo Tavares, receberam algum tipo de reconhecimento do International Cocoa Awards. A Ceplac ainda participou da seleção das sete amostras de amêndoas incluídas na competição.
? Quando o país se posiciona como fornecedor de qualidade, abrem?se mais oportunidades para outros empresários ? opina o diretor do Departamento de Promoção Internacional do Ministério da Agricultura, Eduardo Sampaio, que compôs este ano a comitiva brasileira à feira de Paris.
A promoção comercial contribuiu para que o cacau fino do Brasil se tornasse matéria-prima para chocolates de grifes reconhecidas mundialmente, como a francesa Bonnat, a belga Pierre Marcolin e a italiana Nespresso que comercializa em suas lojas na Suíça e França uma linha de chocolates de origem 74% cacau, produzida com amêndoas do baiano João Tavares. Para ampliar essa participação, a Ceplac criou um departamento socioeconômico voltado exclusivamente para o mercado de cacau fino, comandado por Almir Martins. O órgão tem uma linha de pesquisa para selecionar e classificar as amêndoas mais aromáticas, principal diferencial do cacau fino.
A aposta do produtor João Tavares deu tão certo, que hoje praticamente todos os 930 hectares de suas sete propriedades de Ilhéus, Uruçuca e Itajuípe são dedicados ao cacau fino. Foram três anos apenas para adaptar a tecnologia.
? Produzíamos entre 13 mil a 15 mil arrobas. Em 2010, devemos fechar em 22 mil arrobas e, nos próximos quatro anos, a expectativa é ampliar para 40 mil arrobas (600 toneladas) ? estima.
? Com o retorno financeiro estou melhorando a infraestrutura para meus funcionários e quero crescer com o compromisso de preservação ambiental ? completa Tavares. Para ele, o próximo passo é incluir o Brasil na lista oficial de produtores de cacau fino elaborada pela Organização Internacional do Cacau (ICCO, sigla em inglês).
O aroma do cacau
A produção de cacau fino começa com a seleção das sementes e escolha das variedades usadas no plantio, explica o pesquisador da Ceplac Almir Martins. O tratamento pós-colheita, que inclui seleção das amêndoas, fermentação e secagem, também é determinante para um produto de alta qualidade, com aromas marcantes de chocolate, frutas vermelhas, especiarias, frutas amarelas e até flores, que configuram a principal característica do cacau fino.
? Algumas pesquisas mostram que a região onde o cacau é produzido também influencia na qualidade do produto ? complementa Martins.