Os advogados das empresas estiveram reunidos nesta quinta com representantes da autarquia, mas o teor da conversa é confidencial. O Cade trabalha com efetividade no julgamento na próxima semana, mas as empresas ainda tentam uma negociação para evitar restrições que devem ser impostas pelo órgão antitruste, a julgar pelos pareceres da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda e da Procuradoria do Cade (Procade).
Sadia e Perdigão se mostraram recentemente dispostas a fazer o que for necessário para manter suas duas principais marcas no mercado. Esse posicionamento começou a surgir após os sinais emitidos pelo governo de que teriam de desfazer o negócio ou de que veriam parte dele vetado. Os representantes das empresas chegaram a dizer que iriam propor um acordo à autarquia.
? Vamos ceder ? resumiu o vice-presidente de Assuntos Corporativos da BRF Brasil Foods, Wilson Mello, há duas semanas. Se isso for confirmado, levará o processo a se arrastar por pelo menos mais três ou quatro meses.
As empresas não abrem mão de manter suas marcas, conforme uma das alternativas expressas em parecer da Seae divulgado em junho do ano passado. Pela indicação da Seae, o Cade deveria determinar o repasse a um concorrente, por pelo menos cinco anos, do direito de uso da marca Sadia ou Perdigão. Além disso, as empresas teriam de vender ativos, como unidades industriais, de abate de animais e até carteira de fornecedores.
A empresa não deseja, no entanto, “matar a essência da fusão”, que são as marcas. O que a BRF Brasil Foods se disse disposta a fazer é começar uma negociação a partir da alternativa “B” do parecer da Seae. Essa sugestão leva em conta a venda das marcas Batavo, Doriana, Claybom, Delicata, Rezende, Confiança, Wilson, Escolha Saudável e de ativos relacionados à produção de laticínios e congelados, entre outros.
A disposição de usar essa possibilidade para um acordo não significa que a empresa aceite todos os termos do documento. Esse será apenas um ponto de partida para a negociação. Este promete ser um grande caso do Cade depois da aprovação da união entre Brahma e Antártica em Ambev, há 11 anos, e da união frustrada entre Nestlé e Garoto, em 2004. Em ambos os casos, o ganho de escala e a penetração no mercado internacional foram usados como alegações para justificar as operações.
Apesar de querer afastar comparações entre os casos, a empresa também usa esse argumento para justificar a necessidade de união das companhias.