? Em geral, todos perderam, pois se a nova lei agrícola dos EUA entrar em vigor criará a possibilidade de subsídios ainda maiores do que já existiam ? declarou.
No entanto, Amorim reconheceu que, mantida a unidade do Grupo dos Vinte (G20, formado por países em desenvolvimento exportadores agrícolas), apesar das posições divergentes do Brasil nos momentos cruciais das conversas, os países em desenvolvimento conseguiram contribuir de forma inédita com Organização Mundial do Comércio (OMC), “mudando para sempre o processo de negociação e o papel que os países em desenvolvimento têm nele”.
Sobre as fissuras observadas no Mercosul durante as negociações, Amorim disse que a grande lição para o bloco é a necessidade “de ter uma posição negociadora única”, o que não foi conseguido por “fatores relacionados à história”.
? Temos que passar de um nível de coordenação para um nível de integração verdadeira. Muitos dos problemas que tivemos aqui [Genebra] foram causados por isto ? explicou.
Apesar do compasso de espera no qual entrou a Rodada de Doha, o chanceler brasileiro advertiu que os acordos bilaterais não são a solução para as barreiras comerciais dos países e que assuntos como subsídios nas nações ricas nunca poderão ser resolvidos a este nível.
? Não há tratado de livre-comércio nem acordo com a União Européia, nada disso pode acabar com o principal veneno que existe no comércio internacional ? disse ao se referir a estes subsídios.
A visão do Brasil sobre as negociações
O Brasil foi uma das sete potências comerciais ? juntamente com Austrália, China, Índia, Japão, EUA e União Européia (UE) ? que negociaram nos últimos dias sem sucesso um acordo sobre a liberalização agrícola e industrial, considerada indispensável para levar uma proposta concreta para um grupo mais amplo de países.
? Fizemos tudo o que pudemos olhando não apenas para nossos interesses, mas também para os dos países mais pobres e em desenvolvimento. Não me arrependo, pois acho que isto permitiu conseguir avanços ? afirmou Amorim.
Para o ministro, um dos grandes protagonistas das negociações, elas dificilmente poderão ser retomadas nos próximos meses e o mais provável é que tenha que se esperar pelo novo Governo nos EUA.
? Vamos esperar dois ou três anos. Isto não é um quebra-cabeça que está sem uma peça e que quando é colocada tudo fica pronto. Há várias coisas que teriam que ser revisadas ? explicou Amorim.
Embora reconheça que o colapso da Rodada de Doha represente para ele uma frustração pessoal após vários anos investidos no processo, Amorim evitou dramas ao dizer que “a vida continua”. No entanto, o ministro declarou que retomar as negociações não será uma tarefa simples, pois as questões e as preocupações dos países mudam com o tempo.
? A discussão sobre agricultura era uma antes da crise dos alimentos e agora é outra. Pode ser que nossa tolerância aos subsídios diminua e achemos que deva ser zero ? declarou.
OS EUA propuseram reduzir seu limite máximo de subsídios para US$ 15 bilhões anuais, em relação ao limite de US$ 48 bilhões atuais, mas a oferta ficou no vazio após o fracasso.